O
silêncio com uma atitude pode ser mil vezes mais ‘alto’ do que o discurso de
alguém que nada faz.
Foram
necessários muitos anos de minha vida, para que eu finalmente aprendesse a
falar menos e escutar mais. Fazer ao invés de falar!
Nem
sempre, a beleza e conteúdo de uma frase, de um texto ou de toda uma conversa,
são o bastante para atingir a compreensão de uma pessoa. Também é necessário
que aquele que ouve se encontre num nível de maturidade à altura do que seus
ouvidos recebem. Muitas vezes não estamos prontos para tudo de bom que nos
rodeia. É como estar, temporariamente, cego e surdo, mesmo de olhos abertos e
com perfeita audição. Acontece com todos nós.
A
frase que intitula esta matéria não se refere ao que falamos e ouvimos, mais do
que aquilo que fazemos. Trata-se de uma maneira bem interessante de explicar o que
é hipocrisia e incoerência.
Já
ouviu alguém falar sobre ética, quando seus atos são totalmente antiéticos? Um
médico que fuma e aconselha seus pacientes a não fumarem? Ou um religioso
intolerante? Muitas vezes, fala-se demasiadamente, na tentativa de se sobrepor
o que falta em atitudes.
Por
um tempo, tentei convencer meu filho do quanto o amava e sentia muito por
algumas circunstâncias de nossa convivência. E por mais que conversássemos, ele
insistia: “você não me ouve”. Depois
de um determinado tempo, parei de tentar convencê-lo de qualquer coisa.
Concentrei meus pensamentos em minhas atitudes. E o que eu queria dizer começou
a ser dito pelo meu comportamento e não mais por palavras. De uma maneira bem
simples foi assim: ao invés de dizer “eu
te amo”, me tornei uma pessoa mais disponível e compreensiva. No lugar das
longas conversas, no dia-a-dia, me transformei numa pessoa mais calma e
agradável.
Quantas
vezes não percebemos em pessoas que falam demais, grande incoerência com o que
elas fazem na prática? Políticos que insistem em se dizer inocentes, quando
seus nomes surgem em práticas corruptas por vezes seguidas. Colegas que pouco
fazem e se dizem sobrecarregados. Pessoas inseguras que tentam através do
excesso de palavras demonstrarem suas duvidosas seguranças. Na prática, muitas
vezes, quem fala muito é justamente o que pouco faz. De maneira inconsciente,
pessoas que não estão certas do que elas mesmas dizem, repetem seus discursos,
na tentativa de se convencerem de suas próprias incoerências.
Certamente,
todos nós conhecemos pessoas que falam demais e fazem de menos. Exemplos não me
faltam para descrever aqui, porém, muito mais importante do que observar as
pessoas e atitudes à minha volta é observar a mim mesma: quem eu fui e fiz no
passado, e o que eu faço hoje.
Mais
importante do que apontar o dedo para o outro é olhar para o que eu faço ou
deixo de fazer. Para uma verdadeira evolução de mim mesma é essencial que eu
meça as minhas próprias palavras e discursos, para que aquilo que eu profiro
seja coerente com o meu comportamento no dia-a-dia. Se falo de gentileza, que
eu perceba o meu tratamento com os demais à minha volta. Se quero amor, que eu
dê amor. Se exijo respeito, que exerça então o respeito ao próximo.
O
título deste texto deve instigar que o meu discurso aconteça através dos meus
atos e não somente por um conjunto de palavras bonitas e que podem ser
cansativas e falsas, quando não as exerço na prática. Por que um “eu te amo” dito em voz alta todos os
dias pode até ser bom, mas vale muito pouco, se no dia-a-dia eu estou de mau
humor e não trato com carinho e respeito o receptor da minha frase.
O
silêncio com uma atitude pode ser mil vezes mais ‘alto’ do que o discurso de
alguém que nada faz.
O
que vale de verdade é o que se faz, e não o que se fala.
Via: Revista Pazes