Sempre
haverá quem não desistirá de nós, quem acreditará no nosso melhor, quem
aceitará nossas falhas, quem nos resgatará de nossas escuridões e nos reerguerá
dos escombros de nossas derrotas.
A
sensação de abandono é muito dolorosa e nos amedronta ter de passar por isso.
Parece que, quando assim nos sentimos, voltamos a ser aquela criança assustada
em meio a uma multidão de estranhos, quando nos perdíamos de nossos pais, ou
quando eles se atrasavam para nos pegar na escola. Quando nos vemos largados,
esquecidos, sentimo-nos vulneráveis, frágeis, menos do que um nada.
Somos
seres com necessidade de compartilhamento, de acolhimento, de sentimentos
recíprocos, sendo desagradável e dolorido o retorno de um vazio que nada traz
de volta, como se plantássemos sementes estéreis em terreno infecundo. Desde
pequenos, ansiamos por sermos aceitos, primeiramente pelos nossos pais, mais
tarde pelos amigos e por aí vai. Dá para ser feliz sozinho, quando optamos por
ser solteiros, porém, é difícil encontrar a felicidade quando nos dão as costas
enquanto pedimos exatamente o contrário.
Inevitavelmente,
sentiremos o abandono de forma pungente, ao longo de nosso caminhar, pois
veremos partir os amigos mais próximos, os familiares mais queridos, os
momentos, os amores e desamores, por entre sorrisos e lágrimas, seja para
outras cidades, outras moradas, outros abraços, seja para o mundo depois desse.
As pessoas e os momentos simplesmente vão embora, com ou sem despedida, por
mais que a gente lute contra, ainda que a gente implore e grite contra isso.
Mesmo
assim, felizmente, conseguiremos manter junto de nós algumas pessoas, muitas
lembranças, objetos, fotos, sonhos, seja lá fora ou aqui bem dentro da gente.
Sempre haverá quem não desistirá de nós, quem acreditará no nosso melhor, quem
aceitará nossas falhas, quem nos resgatará de nossas escuridões e nos reerguerá
dos escombros de nossas derrotas. Haverá quem nos ame e nos acompanhe até o fim
de nossas vidas. E haverá muito a ser guardado dentro do coração da gente.
Viver
é assim mesmo, é uma surpresa atrás da outra, algumas boas, outras péssimas. É
um partir e chegar de gente e de momentos, sem aviso prévio, muitas vezes sem
oportunidades de dizermos adeus. É prazer e dor, satisfação e decepção,
tempestade e bonança. Porque nada que passa em linha reta pode ensinar alguma
coisa, nada que vem fácil demais nos torna mais gente, nem nada cai do céu. Não
podemos é deixar que esse medo de abandono nos impeça de trazer gente para
junto de nós, sempre, pois aqueles que ficarem serão sempre os únicos que
deveriam ter ficado. Ninguém mais.
Via: Conti Outra