Não
é vergonha nenhuma optar pelo silêncio de vez em quando.
Os
bombardeios na Síria. A reforma da previdência. Os efeitos do óleo de coco à
saúde. Os ataques às igrejas no Egito. A herança de Gordon Ramsay. A política
econômica de Donald Trump. O novo sabor do Doritos. O gol impedido do
Botafogo...
Calma!
O
formato das nossas vidas no século XXI, cercados de informações o tempo
inteiro, sem termos tempo nem mesmo para digeri-las (e muito menos para buscar
informações em fontes alternativas sobre o mesmo tema), faz com que nós
tenhamos a falsa impressão de que somos obrigados a ter uma opinião definida
sobre tudo.
A
boa notícia é: não temos. Não, não precisamos fincar posição sobre todos os assuntos.
Há uns dias eu conversava com a minha mãe sobre a atitude do governo norte
americano em relação ao regime de Assad e, angustiada, eu disse a ela “mãe, é um jogo tão complicado, que eu me
flagro sem saber o que pensar”. E ela me disse “tudo bem, filha, a gente não precisa se posicionar sobre tudo”.
Trata-se
de uma constatação óbvia, porém necessária. E que, na verdade, trata-se não
apenas de não termos que nos posicionar, mas de termos a responsabilidade de
não escolhermos um lado ou uma versão quando não conhecemos suficientemente o
tema, seja ele política, nutrição, economia, moda ou oftalmologia.
Há,
de fato, muita dignidade no silêncio. No ato de dizer “não tenho opinião formada” ou “vou
pesquisar mais a fundo e depois te digo o que eu penso”. Na capacidade de
entendermos que nunca dominaremos todos os assuntos. E que nós somos
responsáveis por tudo o que dizemos, influenciando aqueles que nos cercam.
Frequentemente
me flagro pensando “será que eu não
deveria me manifestar sobre isso?” Será que não tenho leitores esperando
que eu diga algo? Mas estou aprendendo que muitas vezes nosso silêncio é o
presente mais generoso que damos aos outros. Que é muito mais honesto sermos
omissos do que nos convencermos que somos Phd em assuntos sobre os quais lemos
dois ou três artigos que apareceram nas nossas timelines.
Sim,
é importante criarmos opinião sobre temas que nos interessam. Pesquisar,
questionar, discutir, buscar conclusões. Isso é uma coisa. Sair por aí com
discurso barato travestido de opinião convicta é outra. Não é vergonha nenhuma
optar pelo silêncio. Pelo contrário, o silêncio costuma ser um caminho muito
digno.