Se
eu pudesse dar um conselho hoje, eu apenas diria: aproveita! Porque a gente se
distrai mesmo das pessoas que já foram o centro do nosso coração errante. A
gente se distrai delas, seja através do estranhamento calcado diariamente, por
decepção violenta, seja porque naturalmente é da gente um dia também se
distrair da dor.
A
gente se distrai tomando a triste ciência de que tem gente que abusa do afeto.
Eu entendo: há gente que aprendeu que as relações são assim, amensalistas, um
dando-se para o tomar constante do outro. Há gente que cresceu em lares pouco
afetuosos, há gente que foi endurecendo-se pela crueza da vida.
Há
gente que foi ficando assim sem perceber, mas a partir do momento que eu
percebo, cabe a mim escolher: permanecer ou não nesse tipo de laço, como aquele
que sempre perde um pouco mais, como aquele que perdoa mais uma vez a falta de
cuidado, como aquele que sempre é sugado para o caos alheio, envolvido por
laços que mais parecem embaraços constantes. Eu não posso ser mais essa pessoa
para ninguém. Foge-me o tempo, urge-me a pressa de relações mais verdadeiras,
de pessoas mais verdadeiras inclusive para si mesmas.
Triste
ou naturalmente, a gente também se distrai de quem nessa vida só nos foi amor.
Demora um tantinho mais, não vem vestido nas formas ácidas do amargor, mas
acontece. A gente se distrai do estar à volta delas tomando um avião, um
caminho diferente que só nossos pés compreendem. Então aproveita, ama no tempo
da pureza, olha demoradamente enquanto a beleza ainda está lá para ser vista.
Porque a vida distrai a gente das pessoas. Das que nos fazem bem e das que não
fazem a menor diferença.
Para
quem me é benção ou para quem só faz bem para si, eu só digo uma coisa:
aproveita. Para a vida ou para a curva distraída que a finda, nós um dia nos
distrairemos um do outro. Uns guardo comigo como o bem que também me foram.
Outros, apenas como pessoas que se vão entre uma distração e outra.
Via: Conti Outra