Há
alguns anos, vivendo um namoro conturbado, cheio de altos e baixos e muito
desgaste, desisti do que julgava ser um grande amor. É claro que sofri por
algum tempo, mas descobri que de vez em quando é melhor cortar pela raiz do que
carregar uma vida inteira de sofrimento.
Desistir
- de alguém, de alguma situação, de algum sonho ou plano - é uma das decisões
mais difíceis de se tomar. Pois é pacto que a gente faz com a razão, com a
necessidade de seguir em frente com menos dor e mais amor próprio; mas nem
sempre está de acordo com a emoção, com a parte de nós mesmos que ainda quer
viver atada àquele lugar que já fez parte do que somos.
Desistir
é uma escolha, mas nem por isso é algo simples ou fácil. Pois impõe a quebra de
contratos com aquilo que um dia amamos, com aquilo que um dia cuidamos para que
não morresse, com aquilo que julgávamos parte de nossa identidade.
A
gente desiste do que dói, dos lugares onde a gente não cabe mais, das histórias
que a gente torcia para que dessem certo, mas não deram, dos amores que nos
tornam pessoas piores do que realmente somos.
Muitas
vezes, desistir de um amor é dizer “sim”
a si mesmo. É reconhecer que nem sempre aquilo que julgamos ‘perfeito’ é
realmente ideal em nossa vida. É entender que alguns amores permanecerão na
memória, mas nunca sobreviverão no dia a dia. É dar chance para um caso de amor
recíproco consigo mesmo.
Desista
de um amor se ele deixou de ser servido em bandeja de prata, e só sobraram
restos que você insiste em aquecer em banho maria; desista de um caminho se ele
não lhe traz satisfação nem significado; desista de uma rotina se ela não lhe
torna uma pessoa melhor e só restam dúvidas a respeito de si mesmo; desista de
uma culpa se só você ainda não se absolveu; desista de uma mágoa perdoando quem
lhe feriu e entregando seu coração a Deus.
A
gente escuta muito que não se deve desistir dos sonhos, mas de vez em quando é
necessário uma boa dose de humildade para admitir que não há mais o que ser
buscado, que a antiga expectativa necessita de um ‘basta’, que o primitivo
anseio foi por água abaixo. Se há tantos outros sonhos a serem vividos, por que
insistir em habitar os mesmos velhos sonhos que não se concretizaram como a
gente gostaria?
A
gente não desiste do que quer, a gente desiste do que dói. Dos laços que
machucam, da indiferença que maltrata, da inconstância que perturba.
E
finalmente descobrimos que desistir pode ser parte da nossa força também, pois
a construção de nossa felicidade depende daquilo que deixamos pra trás ou permitimos
que se despedisse de nós.