Era
amor.
Quando
eles se conheceram não teve amizade no início, intimidade no meio e
cumplicidade no final. Só teve amor, desde o primeiro minuto, desde o primeiro
olhar. Onde faltavam palavras sobravam sorrisos. Foi tão raro, tão lindo, tão
rápido que ela não podia acreditar.
Ela
que sempre teve medo de amar, que sempre desconfiou da própria sombra, agora
mergulhava de cabeça naquele romance. Ela mergulhou de olhos fechados e foi
engolida pela escuridão.
Era
amor.
Mas
também era ciúme. Também era desconfiança. Ela que sempre foi livre se viu
presa. Ela que sempre foi dela mesma, se viu sendo só dele e de mais ninguém.
Ela não se pertencia mais. Suas decisões saiam da boca dele, suas escolhas eram
feitas por ele. Sua vida, seus amigos e suas roupas só podiam ser suas se fosse
da vontade dele. Ela não se sentia mais ela. Mas pelo menos, era amor.
Ela
era feliz, mas sua felicidade só durava enquanto durasse a dele. Ele erguia
muralhas e criava obstáculos para que mais ninguém chegasse até ela. Só ele.
Ela fazia tudo o que podia para que eles fossem felizes, mas era tão frágil a
felicidade deles. Ela se desesperava. Queria o amor, mas não sabia que amar era
tão difícil.
Não
sabia que amar podia doer.
E
como doeu.
O
primeiro tapa foi leve. Ele se irritou. Se irritou porque a amava. Ela perdoou.
O
segundo foi mais forte. Ela usou a roupa que não devia.
O
terceiro a derrubou. Ela falou com quem não podia.
O
quarto deixou cicatriz. Ela não se lembrava o que tinha feito, só sabia que
merecia.
Apesar
de tudo, apesar da dor, do medo, do ciúme, da tristeza, das lágrimas, das
amizades rompidas, da família esquecida, ela erguia a cabeça e dizia que era
amor.
Ela
que sempre foi forte se viu fraca. Se viu triste, sozinha e abandonada.
Então
ela entendeu que não era amor. Nunca havia sido amor.
Não
foi fácil ir embora, não foi fácil não olhar para trás. Mas foi bom. E a cada
passo que ela dava, quanto mais se afastava, mais ela se sentia aliviada. Mais
ela se sentia ela. E quando ela reaprendeu quem ela era, foi quando ela
aprendeu o que era amor.