A
solidão não se comporta bem nos encontros. Fale por ela antes que seja tarde.
Ela tem necessidade de justificar sua condição, por vezes tímida, acuada, mas,
em outras, até mesmo agressiva e mal-educada.
Podemos
ser solitários, mas jamais seremos somente isso. Solidão é uma condição
complementar, não primária. Se ela tomar a voz em todas as decisões, acabará
por nos soterrar e nos fazer dignos de piedade.
Todo
mundo tem uma parcela de solidão na vida. Passatempos solitários, opiniões
solitárias, sonhos, principalmente sonhos, adoravelmente solitários. Solidão
não é virtude nem defeito. Só que é perigosa porque quer crescer e tomar um lugar
e uma voz que nos afasta de tudo e todos.
É
bacana conviver amistosamente com a solidão, por vezes é melhor companhia e
ainda nos conforta e aquieta. Mas jamais pode ela nos afastar do que precisamos
ou queremos.
Quando
a solidão encontra a carência, ela devora. Se for com a indiferença, ela
repele. Com o amor – e por mais que ela tenha vontade de se entregar – ela
vacila. Sabe que pode vir a ser o seu fim. É hora de entrar em cena e tomar o
controle das decisões. O amor chega, pede para ficar, mas dificilmente entra em
luta com a solidão.
Amor
é janela aberta, solidão é portão trancado. Se não se passa sequer do portão,
jamais se saberá a vista que a janela oferece.
Mas,
por gratidão ou educação, é sempre bom lembrar as contribuições da solidão em cada
vida. Momentos únicos para tentar decifrar os códigos de convivência, instantes
de lembranças mágicas, ideias nascidas do silêncio. Má a solidão não é. Um
pouco devoradora, talvez.
Se
estiver bem-educada e ensinada a ter seu próprio lugar, as chances de que
cresça além da conta diminuem muito, e, com sorte e um pouco de amor, é
possível que ela ignore as ameaças à sua sobrevivência e se transforme em outra
coisa, uma pequena e saudável escapada, por exemplo.
Via: Conti Outra