O
cabelo está embaraçado e o nó cisma em atrapalhar. Dói fininho quando alguém
que a gente gosta vai embora. Machuca e incomoda como esse nó no meu cabelo que
eu não consigo tirar. Dói no cabelo que já não fica o mesmo. Dói em mim que não
consigo resolver o impasse. Permanece a dor de cabeça como brinde de um empate
curioso dessa espera.
É
ruim quando a gente ama e se desespera porque o amor já não cabe mais na mesma
caixa, no mesmo frasco. É estranho perceber que ele mudou de formato. Que o que
antes se esparramava todo na imensidão bonita de seus laços, agora se
desembrulha tímido pela fresta do desmaio. E é fato que já não é mais como era
antes. Mas isso tem que ser pior?
Se
o que era antes acabou é porque não era tão bom assim. Ou assim eu gosto de
tentar pensar. E me distraio com o cabelo que faz tempo que assim como esse
amor já não é a mesma coisa a brilhar. Viço que tira férias. Brilho que
desacostuma. E a vida passa a ser de repente uma festa de pontas duplas pra
todos os lados. Quer colorir. Experimenta pôr de lado. Inventa um novo
penteado, mas a estrutura do fio ainda é a mesma que teima em nascer de novo
enrolado, enrolado, enrolado. Até fazer cacho. Ainda que suave. Só na ponta.
Faz tempo que anda muito agressiva e tem certeza de que não é nenhuma
progressiva que vai trazer resultado. Precisa é de tratamento. Banho de creme e
de choque. Cuidar da raiz com cuidado. Benção de hidratação. Precisa é tentar
proteger a alma desses efeitos nocivos de começo de verão.
*Crônica
do livro ‘As Maravilhas do País de Alice’, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.