Supondo
que a pessoa seja acometida por um arrependimento monumental, que amargue um
tremendo remorso e se afogue num mar de culpa... aquele que traiu jamais terá a
dimensão exata do buraco gigante que cavou no peito do outro.
Ser
traído é ter a confiança roubada pelas costas. É ter a inteligência subestimada
e a auto estima picada em minúsculos pedacinhos.
A
dor da traição é extremamente complexa, porque quebra no interior daquele que
foi traído os alicerces sobre o qual fora construída a relação.
Ser
enganado altera a capacidade de interpretar os sentimentos. Ficamos frágeis,
confusos, temos dificuldades em discernir o que é real, do que ilusão
destruída.
Não
raras vezes, aquele que é traído acaba buscando em seu comportamento, em suas
atitudes a razão para tudo o que aconteceu; torna-se suspeito do mal feito
alheio.
E
dói. Dói por inúmeras razões. Dói porque é desnecessário, dói porque diminui a
importância da história partilhada, dói porque não há nada que justifique a
quebra de confiança.
A
traição é a mais covarde das escolhas. É a opção pelo caminho mais fácil. É
arrastar para dentro de um buraco o que deveria ser honrado e ter valor.
Perdoar
a traição é dessas coisas que foge à nossa capacidade racional. E quando acaba
acontecendo, muitas vezes é porque existe nessa atitude uma esperança em fazer
cessar o sofrimento.
Perdoa-se
numa tentativa de retroagir, como se fosse possível apagar os danos. Quase
sempre não é. E o tempo acaba revelando fissuras no relacionamento, trincas por
onde emergem ressentimentos, mágoas e culpas.
Por
mais que pareça triste, no fim das contas o melhor que se pode fazer é cortar
os laços mesmo. Deixar que a ferida cicatrize em paz. Seguir em frente e deixar
que o outro descubra por si mesmo que havia outra escolha, ele só não foi capaz
de fazê-la.
E
depois disso, de ter sido capaz de desenhar no fim dessa história um definitivo
ponto final, projetar para si mesmo um modelo mais saudável de relação, na qual
o compromisso seja partilhado, assumido e respeitado por todos os envolvidos.
Porque errar na escolha do parceiro uma vez é humano, persistir na escolha
errada é falta de amor próprio mesmo.