(Sobre
a superação de que estamos precisando...)
Conheci
uma menina que tinha medo de tudo. Temia ser engraçada, ou sem graça demais.
Vivia em dúvida se deveria expor sua inteligência, ou se mostrar incapaz. Tinha
medo do que iriam pensar e do que diriam se ela fizesse tal coisa. Tinha medo
de usar batom colorido, de usar roupa colorida, de correr perigo.
E
assim ela foi ficando parada, com a alma desbotada, cheia de sonhos falidos.
Acontece
que um dia, assim, sem mais nem menos, a menina decidiu enfrentar seus
desmandos. Decidiu que não queria saber o que falariam, já que falariam de
qualquer jeito. Não queria mais sua vida estancada, nem seus desejos barrados
pela falta de coragem que a submetia.
Se
agitou e procurou seu colorido. Mudou, se reinventou e encarou seus desafios.
Fez para si um novo curso, e nesse novo leito deixou correr as águas da sua
emoção. Tem agora um desejo inquietante de querer um pouco mais, de ir além, de
afogar o medo que limita sua razão.
Não
se sabe ao certo de onde veio a coragem. De onde afinal, tirou forças para
vencer todas as barragens que havia construído para cercar a correnteza de desejos
que ela tinha dentro de si. O fato é que ela rompeu todos esses obstáculos.
Era
a alma mais medrosa de que ela já tinha tido notícia. Passou anos sem saber o
que faria da sua própria vida. Até que um dia ela foi, arrastando seus empasses
consigo.
Com
os limites que havia se imposto ninguém sabe o que aconteceu.
O
fato é que ela deixou de ser lago. Virou correnteza e deslizou em várias
direções. Agora ela é capaz de fazer as coisas de que todos duvidavam,
inclusive ela.
Que
mudança sensacional! Todos perceberam que alguma coisa diferente havia ali. O
segredo ela fazia questão de repetir: ousadia!
Ela
gostou da nova menina que viu fluir dentro de si.
E
nunca mais ficou parada, feito espelho d’água! Tornou-se água corrente, afoita
pra desaguar na vida e amar seus afluentes.
Alessandra
Piassarollo