Procuramos
o amor em grandes demonstrações. Em homenagens de aniversário, discursos em
festas e em declarações quilométricas no Facebook. Procuramos um amor de
novela, que distribua rosas vermelhas diretamente de um helicóptero. Procuramos
exageros e, de preferência, com plateia e aplausos. O que temos nunca é o
suficiente. Por isso, estamos em constante cobrança de sentimentos. Obviamente,
porque tudo que o outro nos mostra é pequeno demais diante do que se espera.
Não
estou dizendo que o amor reside nas migalhas. Pelo contrário, ele sucumbe
diante de partículas de sentimento e de entrega. No entanto, são nos simples e
pequenos gestos que ele se prolifera. Não é preciso inúmeros likes em fotos estampadas nas redes
sociais. Não há necessidade de aplausos, muito menos de helicópteros e pétalas
de rosas. O amor é simples, sutil e quase imperceptível. Ele mora nos detalhes,
na delicadeza e na discrição. Não é preciso plateia para que alguém ame e,
menos ainda, para que se perceba amado.
Amor
é o doce que meu avô de 91 anos traz no bolso, todos os dias, para o meu pai,
de 57. Detalhe: meu avô não é pai do meu pai e, sim, sogro. Meu pai, que está
cada dia menos lúcido por conta de uma doença neurodegenerativa e progressiva,
recebe aquele doce com a alegria de uma criança ao receber um bombom. Rasga a
embalagem na hora e saboreia com gosto aquele simples torrone de amendoim. E,
para esse gesto, nenhuma foto, nenhum post, nenhum alarde. Meu avô chega de
fininho, faz a sua parte e sai realizado.
É
o meu avô, com a lucidez de um jovem, que me ensina todos os dias o real
significado do amor ao próximo. A partir dessa pequena ação, ele pratica o
sentimento mais lindo do mundo, sem pedir nada em troca. Deixa o amor mais
doce, literalmente. Ele sabe que meu pai pode não lembrar disso amanhã, mas
pouco se importa. A alegria de vê-lo recebendo um simples doce já o recompensa.
Ao meu pai, aquele torrone representa o carinho e o cuidado de um sogro para o
genro. Sobretudo, de um humano para outro ser humano.
Porque,
definitivamente, o amor está nas pequenas coisas. Nas minúsculas, talvez. O que
é um simples doce diante do que entendemos como amor? Exigimos muito porque
reconhecemos pouco. Sentimentos não são exigentes, nós é que exigimos muito
deles. Para um coração, um simples afago é o suficiente. Nessa busca por
grandes demonstrações, perdemos o olhar às pequenas coisas. Ampliamos demais a lente e
nos esquecemos de dar zoom. Vivemos em busca de banquetes, enquanto podemos ter
ali, aos nossos olhos, um doce inteiro, completo e suculento.
Meu
pai e meu avô sabem bem disso. Eles sim são sábios.
Via: Sem Travas na Língua