Se
ainda há amor, é válido tentar corrigir o que está atrapalhando o
relacionamento.
Uma
separação sempre vem acompanhada de sofrimento, mesmo quando o amor acabou e já
não há mais motivos para manter o relacionamento. E é por isso mesmo que muitos
casais insistem em tentar preservar uma relação que já chegou ao fim.
“Muitas pessoas não se separam
quando deixam de amar porque criaram raízes poderosas naquele relacionamento”, diz o psicólogo especializado
no estudo do relacionamento amoroso Ailton Amélio, professor do Instituto de
Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).
“A identidade da pessoa se
mistura com a do par. O ‘eu’ e ‘você’ vira ‘nós’. As pessoas começam a tratar o
casal como uma unidade, que também se vê, psicologicamente, assim. Recuperar a
identidade de solteiro após a separação pode levar até três anos”, explica.
A
psicóloga Carmen Cerqueira Cesar concorda. “Muitas
pessoas permanecem juntas pois, emocionalmente, não se sustentam sozinhas.
Precisariam amadurecer. Mas crescer dói, dá trabalho. O ganho em manter essa
situação é permanecer protegido do esforço que implica o processo de
individualização”, afirma.
Você
vive mesmo um relacionamento satisfatório ou ao avaliar o assunto de maneira
sincera acaba pesando prós e contras que nada têm a ver com o amor?
Especialistas apontam as situações mais comuns que indicam que o comodismo
tomou conta da sua vida amorosa (e que o futuro do seu relacionamento depende
de circunstâncias que não incluem, necessariamente, o afeto).
Abrir
mão de um relacionamento é, também, desistir de sonhos e planos feitos com a
outra pessoa. A viagem que aconteceria no ano que vem, a casa que comprariam, o
negócio que abririam na aposentadoria. Tudo isso rui quando o fim da união é
decretado. “A pessoa que se separa tem de
desfazer todo o seu planejamento para o futuro e recomeçar”, diz Amélio.
Se
há filhos, a dificuldade aumenta. Além de ter de começar uma vida nova sozinho,
será preciso lidar com o convívio com o ex-parceiro. Caso uma das partes
dependa da outra financeiramente, surge, ainda, o medo de diminuir o padrão de
vida econômico atual.
As
razões para insistir em uma relação que já acabou são inúmeras. E todas
legítimas. No entanto, há consequências negativas em manter uma união sem amor,
a começar por conviver com o constante sentimento de insatisfação. Segundo os
especialistas, dividir a vida com alguém, o que inclui abrir mão de alguns
desejos, só é possível se existe amor. Quando o sentimento acaba, a vida a dois
pode se tornar um martírio.
“A insatisfação desgasta a
relação do casal e o convívio familiar. Mal resolvidos, os dois se machucam e
afetam as pessoas que estão ao redor, inclusive os filhos”, diz Carmen.
A
terapeuta familiar e de casal Margarete Volpi, mestre em psicoterapia pela
PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), bate na mesma tecla: “Não dá para ter uma família saudável sem
antes ser um casal saudável”. E quanto antes o casal se der conta disso, menos
sofrimento os filhos terão.
“Se a parceria for madura, os
filhos entenderão e poderá haver um bom relacionamento entre os pais. Dessa
forma, as crianças receberão um bom exemplo de como se busca a felicidade”, afirma a médica Sylvia Marzano,
especializada em psicoterapia sociodramática de família, casais e grupos pela
PUC-Goiás (Pontifícia Universidade Católica de Goiás).
Colocando na balança
Ao
sentir dificuldade de tomar uma decisão, é preciso avaliar os prejuízos no
presente e no futuro. “Às vezes, adiando
a separação, a pessoa evita um desconforto no momento, mas, a médio prazo,
pagará custos altíssimos, como o fato de ter de viver uma vida que não lhe
satisfaz, sem energia, sem motivação para seguir adiante”, afirma Ailton
Amélio.
Por
outro lado, é preciso avaliar se o amor realmente acabou. Se ainda houver
sentimento, vale tentar descobrir o que foi que deteriorou a convivência. A
distância que se instaurou entre o casal pode ser resultado de uma comunicação
deficiente, de expectativas irreais em relação ao outro e de conflitos mal
resolvidos.
Dando
uma atenção especial a essas questões, em alguns casos, é possível reerguer o
relacionamento. Ou, ao menos, evitar a culpa, no futuro, por achar que não
lutou o suficiente pela relação. “O
companheirismo e a amizade até podem sustentar uma relação. Mas depende de
quais são as expectativas de vida de cada um”, diz Carmen.
Porém,
se todas as tentativas de estabelecer uma convivência feliz e prazerosa forem
frustradas, o melhor a fazer é encarar a mudança, com a certeza de que o fim de
um relacionamento é sempre muito triste, mas, depois dele, vem o recomeço e um
mundo de possibilidades se abrirá. “Não é
impossível começar do zero. Mas é preciso colocar a felicidade em primeiro
lugar e responder a uma pergunta importante: o que você valoriza na vida? E, a
partir daí, começar a se dedicar aos seus sonhos”, diz Margarete.
Via: O Segredo