“Ignore,
supere, esqueça. Mas jamais pense em desistir de você por causa de alguém.”
(Clarice
Lispector)
É
quase automático: todo fim de relacionamento aparece um amigo, com a maior boa
intenção do mundo, aconselhando-nos a curar o amor antigo com um novo. E o
pior: há pessoas que, realmente, acreditam que isso possa dar certo.
A
rotina de quem acaba de ficar solteiro é cruel e, caso você não seja muito
controlado, entrará em um surto psicótico em questão de segundos. O calendário
passa por uma mudança tão brusca que você pensa que mudou o ano sem aviso
prévio: não tem mais quem buscar no trabalho, não tem companhia para ir ao
cinema, os programas de quinta à noite passam a não existir e o domingo parece
nunca mais acabar. Nesses dias, você entra em um desespero e quer, a qualquer
custo, encontrar uma companhia, para suprir os dias que ficaram longos demais
(quando, na pior das hipóteses, não cogita voltar no relacionamento anterior).
O
medo de ficar sozinho é tão grande que faz com que as pessoas tomem decisões
erradas. Sem entender que essa solidão é um estado provisório e dura pouquíssimo
tempo (infelizmente, porque ela é muito divertida).
Essa
ideia de que os momentos de solidão estão associados ao desânimo e ao vazio
existencial é enganosa. É na solidão que você descobre que gosta de vinho, de
seriados e de comer na sala. São nos momentos de solidão que você descobre os
próprios valores e aprende que ninguém pode te tratar menos do que você merece.
Aprende a se respeitar e a exigir que os outros façam o mesmo. Na solidão nos
descobrimos. Como dizia Herman Hesse “nada
lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo
de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não
ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu
próprio mundo, e isso é tudo”.
Sabe,
não somos máquinas. Todo término de relacionamento merece um período de
silêncio, de respeito, de quietude. Não dá para engatar uma história na outra,
porque as pessoas são diferentes e carregam bagagens de vida pesadas. A alma
também precisa ser arrumada, limpa, organizada. Não dá para receber visita em
casa suja. Arrume essa vida primeiro. Limpe essa sujeita que ficou. Feche as
brechas da saudade. Cure essas marcas do passado. Feche essas feridas que não
cicatrizaram ainda. Há tanta desordem nesse coração e você querendo receber uma
nova visita. Faxina leva tempo e você deve esperar o seu. Antes de abrir a
porta da sua vida pra alguém, olhe pelo olho mágico da porta. É mais fácil
proibir a entrada do que ter que tirar depois.
Via: Obvious