Olha,
a gente pode ser bom. Pode ser feliz mesmo com os quilos a mais e com a calça
jeans apertada. Pode se sentir bonita, mesmo quando surgem três novas espinhas
no rosto. Pode, sim. Mesmo quando aquele boy some, sem explicação alguma. E
claro, mesmo quando a gente se pergunta se o problema não é a gente. A gente
pode perguntar se o problema não é com a gente, o que não pode é achar que
realmente é.
Porque
às vezes cansa querer ser tão perfeita. Cansa não se achar tão bonita, tão
magra, tão legal, tão atraente. Cansa ter que responder às cobranças dos outros
e, o pior, às suas próprias cobranças. Tem tanta coisa dando errado. Tantas
desilusões, tantas lágrimas, tanta confusão. Nada é perfeito, nada está
perfeito. De repente, sol, céu azul, vestido florido. Do nada, o tempo vira
para chuva, cinza, casaco e galocha. A gente não estava preparada para a
mudança brusca. Não só do tempo, mas da vida.
E
aí, não tem porque se achar bom, não é mesmo? É o que a gente pensa. Que bons
são os bem-sucedidos, os que exibem formas impecáveis, os que trocam de amores
como quem troca de meia. A gente não se sente bem com a gente. Meros mortais,
com espinhas (mesmo aos 23 anos), amores improváveis e saldo negativo na conta.
Mas aí, eu venho aqui para dizer que a gente está junto nessa.
O
cansaço vai bater, o coração vai partir, as calças vão apertar, mas, ainda
assim, a gente pode se gostar. A gente pode olhar no espelho e dizer: não foi
dessa vez. Vai ser da próxima. Talvez não da próxima, exatamente, mas da outra,
quem sabe. A gente pode confiar que é possível ser bom, mesmo diante de tantas
adversidades. Bom no que a gente faz, no que a gente enxerga no espelho, no que
a gente acredita. A gente pode ser a gente, sem culpa por isso.
Mais
do que isso, a gente pode rir da gente. Rir do que dá errado, do que não sai
como esperado, do que não é tão perfeito como a gente gostaria. Porque não há
problema em errar, em ser tão imperfeito. Em alguns dias, a gente vai se gostar
menos, é verdade. No entanto, que a gente não deixe de se gostar nunca. De se
achar bons, mesmo quando tudo parece ruim. Nós somos bons o suficiente e isso
basta.
Via: Sem Travas na Língua