Caio
Fernando Loureiro de Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do
Sul, no dia 12 de setembro de 1948. Iniciou os cursos de Letras e Artes Cênicas
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas abandonou ambos para
trabalhar como jornalista. Começou a carreira em 1968 na primeira redação da
revista Veja.
Nesse
mesmo ano, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS),
refugiou-se em São Paulo, na casa da escritora Hilda Hilst. Fugindo do regime
militar no Brasil dos anos 70 morou na Espanha, Inglaterra e França, retornando
à cidade de Porto Alegre em 1974.
Caio
escreveu vários romances e contos, entre eles, ‘Pedras de Calcutá’ (1977), ‘Morangos
Mofados’ (1982), o livro que o tornou popular, ‘Os Dragões Não Conhecem o
Paraíso’ (1988), ‘Onde Andará Dulce Veiga?’ (1990) e ‘Limite Branco’ (1994).
Consagrado
pelo público on-line alcançou popularidade com a inclusão de seus textos em
inúmeros perfis e fanpages, graças a seu humor simples; falando de temas de
interesse universal, como amor, sexo, solidão e morte, de maneira direta, sem
rodeios. Trabalhou também para as revistas Nova e Manchete. Colaborou ainda
para os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de São Paulo e O Estado de
São Paulo.
Após
descobrir-se portador do HIV, retornou à casa dos seus pais em Porto Alegre,
falecendo no dia 25 de fevereiro de 1996.
Reunimos
aqui dez (foi difícil selecionar apenas dez!) citações de Caio Fernando Abreu
que todo mundo deveria ler. Seja por sua transparência, doçura, enfrentamento
de suas dores ou paixão pela vida.
1.
“Não sou pra todos. Gosto muito do meu
mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às
vezes tem um céu azul, outras, tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os
tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não
estão por acaso. São necessárias.”
2.
“Vai passar, tu sabes que vai passar.
Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão
está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada
‘impulso vital’. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que
nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o
mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de
um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ‘estou contente outra
vez’.”
3.
“Tem que ter coragem de olhar no fundo
dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que
ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente
ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável.
A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas
passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você
ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando
a verdade. Eu não minto. Vai passar.”
4.
“A gente sempre acha que é especial na
vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra
tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? Porque amar também é
isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que
ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por
alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.”
5.
“Que seja doce o dia quando eu abrir as
janelas e lembrar de você. Que sejam doces os finais de tardes, inclusive os de
segunda-feira – quando começa a contagem regressiva para o final de semana
chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos
bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja
doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que
seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doces
suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. Que seja doce a leveza
que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja
doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão. Que
seja doce. Que sejamos doces...”
6.
“Ando com uma vontade tão grande de
receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo,
quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero
flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e
começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais.
Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou
cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou
relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem
colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros
tem para me dar.”
7.
“E repito: andei pensando coisas sobre
amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a
perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém
que você ama, você se dói inteiro – mas a morte é inevitável, portanto normal.
Quando você perde alguém que você ama, e esse amor – essa pessoa – continua
viva, há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se
tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo –
porque se poderia ter, já que está vivo. Mas não se tem, nem se terá.”
8.
“Que eu saiba puxar lá do fundo do baú um
jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e
que todo ganho não possa ser medido por fita métrica, nem contado em reais. Que
as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos.
Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do
bem e da felicidade de quem não importa quem seja, ou do mal que tenha feito
pra mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais de um jeito mais leve. Que o
respeito comigo mesmo seja sempre obedecido com a paz de quem está se
encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a paz e o
desejo de viver.”
9.
“Para atravessar agosto ter um amor seria
importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o
menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone,
Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que
você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico
Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é
que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua
cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar
dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não
discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência
ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos,
conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto.”
10.
“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei
que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver
remando me dá vontade de não querer parar também. Tá me entendendo? Eu sei que
sim.”