Você
já pensou sobre tudo aquilo que a dor e o sofrimento são capazes de fazer por
você?
Que
mesmo vivendo o pior pesadelo você pode criar algo extraordinário a partir
dele? Algo que realmente faça a diferença para outras pessoas, algo que impacte
o seu ambiente, a arte, a história ou mesmo que traga alento, alegria e
discernimento para outros seres humanos, tão sofredores quanto você?
As
mais lindas histórias de amor, sempre têm um quê de desencontro, ânsia e
tragédia.
As
pinturas mais expressivas, normalmente assim o são, porque o artista era um
atormentado, que o diga Van Gogh, que decepou a própria orelha em um momento de
insanidade.
Grandes
escritores são conhecidos não só pela genialidade com que conduziram suas
obras, mas também pelas suas tragédias pessoais, muitas culminando no suicídio,
como nos casos de Ernest Hemingway e Virginia Woolf. Ouso dizer que a obra
deles só é tão relevante para a humanidade, porque o incômodo que viviam era de
proporção tal, que a única forma de expressar e construir algo válido era por
meio da arte.
Mas
será que para criar algo fantástico, digno de espanto e admiração é necessário
ser infeliz?
Ao
que tudo indica, sim. Não infeliz para sempre, mas miserável e sofredor por um
tempo, até porque, uma das características da vida é a impermanência das
coisas, o que nos faz concluir, otimistamente, que o inferno não é aqui.
A
arte surge do incômodo. Do estorvo, Chico Buarque fez um livro. E fez músicas,
músicas de relevância política, numa época em que pensar alto poderia gerar um
sofrimento torturante, que, diga-se de passagem, ele conheceu mais de perto do
que a grande maioria dos brasileiros, já que viveu no exílio e viu a tortura de
muitos amigos.
Não
há como existir o belo, se não existir o feio para servir de adubo.
Momentos
de harmonia, paz e felicidade são gloriosos e devem ser desfrutados pedacinho
por pedacinho, como aquele último pedaço do bolo feito pela vovó. Não duram
para sempre e não produzem nada novo, são para gozo e fruição, apenas.
Mas
saiba, que somente as ostras que sentem o incômodo de um grão de areia que
insiste em arranhar o seu interior macio é que produzem pérolas. Como já dizia
o grande contador de história Rubem Alves: “Ostra
feliz não faz pérola”.
E
levando em consideração que é a infelicidade e o sofrimento que trazem a
evolução para cada um de nós, quero encerrar citando Lacan: “Não importa o que fizeram com você. O que
importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.
Que
tal transformar em uma pérola?
Via: Obvious