Tenho
hábito de olhar o céu antes de dormir. A imensidão escura tem o poder de acalmar
minha voz interior e de cessar minhas inquietudes. Elas ficam mudas enquanto
meus olhos percorrem a noite. Os pensamentos, rendidos, aguardam diante da
beleza infinita.
E
quando me detenho nas pequenas luzes que permeiam a negritude, penso naqueles
que já cintilaram em meu coração e que, depois de me terem feito um bem enorme,
levaram suas luzes de volta ao céu. Não me detenho na tristeza. Esse momento é
apenas contemplação. Prefiro pensar em quantos sonhos ainda estão por vir,
quantas pessoas por serem amadas por mim.
Penso
no quanto somos limitados e franzinos. Facilmente contornáveis. Contrastados
com o céu imenso, somos bem pouco. Mas temos a mania de achar que somos tanto!
O
sono que lentamente se acomoda na janela dos olhos é reflexo da jornada
cumprida. Da vida que quer dar um tempo para se refazer de tantos danos e
desencontros. Para ser melhor no próximo dia. Quando os raios luminosos
colorirem novamente o céu, se saberá que tudo vai começar de novo, com
oportunidades para se sanar os danos e remarcar os encontros.
A
vida, seguindo seu curso, exige que se aproveite bem a claridade do coração.
Logo chegará a noite, calma e delicada, com seu colo macio a oferecer descanso
e pequenas estrelas, como sinal de aconchego.
Olhando
o céu escuro dou-me conta de que o dia está completando sua corrida veloz.
Constato o quanto temos tentado acompanhar esta corrida. Reservo um momento
para pensar no Deus que esculpiu o manto escuro que nos cobre, Senhor de tudo
isso. Os limites da minha janela me falam da finitude da vida.
Na
beleza imperiosa da noite, completada pelas nuvens escorregadias, e pela luz
serena que insinua sua torrente de segredos, entendo que preciso viver com mais
disciplina. Aproveitar melhor a vida.
Um
dia serei eu. Amanhecerei, bem longe daqui.
Alessandra
Piassarollo