Você
me procurou para contar um sonho que teve comigo. Para isso, queria me ver
pessoalmente e me contar com detalhes. Relutei até aceitar o seu convite. Não
queria mexer na ferida, que já estava há muito tempo cicatrizada. Tinha medo
de, ao te ver, reviver o mesmo sentimento que tinha por ele. Temia me ver
novamente apaixonada e, mais do que isso, temia que você fosse o mesmo que me
machucara antes.
Felizmente,
o mundo dá voltas. E nós somos os próprios capitães que guiam o destino desse
trajeto. Mesmo tendo sofrido muito com esse relacionamento, o sentimento ainda
persistiu por muitos e muitos dias. Foi além da distância, física e emocional.
Foi além do seu descaso. No entanto, com o tempo, o sentimento se transformou
em amor próprio e segurança. E aí, mesmo no reencontro, ele não foi capaz de me
desestabilizar.
Pelo
contrário, agora quem não quer mais sou eu. Agora, eu que não dou conta de
suportar a sua bipolaridade. Não consigo me anular para cumprir as suas
vontades mimadas. Não aceito desculpas esfarrapadas, nãos mal justificados,
silêncios sem explicações. Você continua o mesmo que me machucou há alguns
anos. Nada mudou. Contudo, a grande mudança parte do lado de cá: eu já não sou
mais a mesma. Ainda bem.
Na
nossa conversa, apenas você. O assunto foi você, os seus problemas, os livros
que você lê, os lugares que frequenta. Quanto a mim, uma mera coadjuvante mais
uma vez. Na posição de espectadora, como já era antes. No entanto, dessa vez, a
espectadora decidiu se tornar protagonista. Decidiu o que poderia aceitar e o
quanto poderia se anular para que a situação fosse adiante. Decidiu que aquele
seria o último reencontro de nós dois. Não havia mais espaço para tanto ego, no
lugar de amor.
Por
fim, você acabou não contando o sonho que tanto queria. Nos despedimos com um
beijo no rosto e a certeza de que, um relacionamento não vive de sonhos. Mais
do que isso, não vive de ilusões. Quanto às minhas, já estão todas esgotadas.
Prefiro me ater à realidade e nela, felizmente, você não está mais incluso. Já
é tarde demais.
Via: Sem Travas na Língua