Depois
de passarmos muito tempo ao lado de outra pessoa, começamos a achar que os
pequenos detalhes são dispensáveis. Não são.
Quantos
relacionamentos poderiam ter sido salvos se as bocas continuassem a dizer
frases simples como: “ei, você está
bonita”, ou “você é importante pra
mim”. Todo relacionamento, assim como uma casa, precisa de manutenções
regulares. E manter, nesse caso, nada mais é do que ser capaz de dizer e também
ouvir coisas aparentemente desgastadas.
Não
é à toa que dizem por aí que a prática leva à perfeição. Ninguém pode ser bom
de fato em algo sem se dedicar àquilo de corpo e alma.
O
casal que não prima pela repetição, erra. Erra feio, erra rude. A busca
incessante pelo novo, o anseio incontrolável por novidade muitas vezes nos leva
ao total esquecimento daquilo que é essencial.
A
saudação de bom dia, o agradecimento, o elogio, as demonstrações de apoio e de
afeto fazem parte de um ritual complexo. Renegar a urgência disso é antecipar a
cerimônia de adeus. Reforças os laços é mais do que ir ao cinema ou ao
restaurante juntos. É também restabelecer o diálogo, o prazer da companhia
através da palavra, da conversa mesmo que banal.
A
intimidade se quebra quando não há conversa. Mesmo a intimidade dos corpos é
afetada com a distância verbal. Não há tesão que resista à degeneração do
diálogo. Ainda é e sempre será importante não reprimir o impulso de falar com o
outro sobre o brilho no olhar, sobre o sabor do beijo, sobre a sensação
confortável de uma mão aquecendo a outra numa noite fria na volta pra casa ou
sobre o prazer de dividir o cobertor no sofá em tarde de chuva.
O
declínio do afeto começa no desprezo pelas coisas pequenas. O silêncio só vira
ouro quando a palavra que escolhemos não dizer for de chumbo. Caso contrário,
cada sílaba importa.
Via: Conti Outra