Ainda
que suas mãos tremam, que seus olhos se inundam, que seu coração se quebre, que
suas pernas pesem, que sua voz falhe, vá, saia de onde nada mais lhe roube
sorrisos, de onde somente existe vazio e dor, solidão e mágoa.
Uma
das decisões mais difíceis de todo ser humano é tomar a iniciativa de partir,
ir embora, deixar para trás. Isso porque se acomodar ao que supostamente já faz
parte de nossas vidas é mais fácil do que quebrar as correntes das ilusões que
nos aprisionam numa redoma de falso conforto. Quando nada mais nos faz sorrir,
é hora de partir.
Quando
os dias se arrastam, as horas se eternizam, os segundos não chegam, fazendo com
que ansiemos pela cama, pelas luzes apagadas e pelo silêncio que não machuca.
Quando o ambiente se carrega de peso, dificultando o nosso respirar tranquilo,
amedrontando os nossos passos, calando nossa voz e nossos sonhos. É hora de
partir.
Quando
o trabalho se torna mera repetição, em que nada se cria, nada motiva, nada
alegra, forçando-nos sorrisos teatrais, palavras sem verdade, ausência de
coleguismo. Quando nos sentimos menos, não nos valorizam, não nos pedem nada,
tampouco nos enxergam, como se ali tivéssemos o mesmo valor de um móvel barato.
É hora de partir.
Quando
a amizade enfraquece, distancia-se, fria e cortante, sem volta, sem retorno,
sem cumplicidade. Quando não se lembram de nos chamar, de nos ligar, de nos
dizer um mero oi, enquanto somente nós nos esforçamos por encontros, conversas,
risadas, em meio a mensagens não visualizadas, telefonemas não atendidos,
convites sem resposta. É hora de partir.
Quando
damos as mãos ao vento, quando olhamos nos olhos que se desviam, quando não nos
sentimos gente ao lado de quem está ali por mera formalidade, como se fosse uma
obrigação a convivência. Quando não há mais procura, nem escuta, tampouco
diálogo; quando temos que implorar, gritar, caso tenhamos que obter um pingo –
meio pingo – de atenção. Quando a reciprocidade ficou num passado distante,
junto com a verdade. É hora de partir.
Ainda
que suas mãos tremam, que seus olhos se inundam, que seu coração se quebre, que
suas pernas pesem, que sua voz falhe, vá, saia de onde nada mais lhe roube
sorrisos, de onde somente existe vazio e dor, solidão e mágoa. À medida que
caminhamos em busca do que nos torna felizes de fato, tudo se vai ficando mais
leve, mais calmo, mais lúcido. Porque ficar com medo jamais será capaz de nos
trazer o prazer de ir ao encontro de uma felicidade possível, verdadeira,
merecidamente nossa. Vá.
Via: O Segredo