Dói,
sim. A gente quando se magoa sente dor. Tem mágoa que dói mais, mágoa que dói
menos, mas sempre dói. Ninguém está livre de se esborrachar aqui e ali.
Acontece. Agora, depois do tombo, cabe a cada um de nós cuidar da dor no lugar
que lhe é direito.
E
lugar de mágoa não é no coração, não. É nos cotovelos. É lá que deve doer toda
decepção e todo desarranjo, todo recalque e todo desgosto. Nos cotovelos. Deixemos
o coração para o amor!
O
amor e seus sonhos de grandeza, seus ímpetos, suas ansiedades, o amor e seus
frêmitos, seus desejos insuspeitados, o amor e suas lembranças, suas saudades e
até suas tristezas inevitáveis, o amor e seu eterno querer bem vivem no coração
da gente e não merecem o aborrecimento de dar de cara com dissabores que deviam
latejar à vontade em outro canto.
O
coração é dos amantes e suas histórias. As mágoas e os ressentimentos, esses
deixemos doer em paz lá embaixo, lá atrás. Nos cotovelos. Deus nos ajude a não
guardar chateações no coração. Quando elas chegarem, sejamos capazes de
despachá-las sem burocracia para o lugar certo.
Vem,
gente amiga. Deixemos doer os cotovelos quando assim tiver de ser. Que doam sem
dó. Estalem doloridos, façam bolhas, avermelhem-se, esfolem-se e criem cascas!
Nós aguentamos!
Mas
que o amor se aposse generoso de todo canto vazio no coração da gente. Porque é
lá que se guarda e se sente todo profundo, verdadeiro e generoso amor. E as dores
que fiquem nos cotovelos!