Médico leva esperança e saúde para a África. Uma história de amor e entrega.



O anestesista Diego Cabral, 32 anos, mora em Vila Velha, no Espírito Santo e já foi duas vezes a Moçambique, África.
“Por um lado, a gente fica chocado e triste, mas por outro abre a nossa cabeça para entender que as pessoas sofrem e que precisamos cuidar um do outro”.
Gastar o próprio dinheiro, saber que vai precisar trocar plantões e trabalhar dobrado ao chegar de viagem – que não é de lazer – e ainda voltar para casa mais feliz do que nunca. Dá pra imaginar? Essa é a sensação do médico anestesista Diego Dalcamini Cabral, 32 anos, que foi pela segunda vez para Moçambique, na África, como voluntário.
“Fui uma vez em abril e outra em novembro. É transformador. Você experimenta uma sensação tão boa que quer voltar várias vezes e sentir aquele bem-estar de novo. Voltei com uma visão de mundo diferente”.

O interesse pelo trabalho voluntário começou aos 16 anos, quando Diego conheceu a organização Médicos Sem Fronteiras. Depois de formado, procurou sobre o tema na internet e encontrou a ONG de Minas Gerais Missão África. Mandou um e-mail e surgiu o primeiro convite.
Durante a missão, que dura de 10 a 12 dias, o grupo composto por médicos, dentistas e profissionais de outras áreas, se dedica de maneira integral. “Tomamos café às 7h e almoçamos às 18h. Ficamos à base de biscoito e barra de cereal. É uma correria tão grande, mas também uma satisfação tão grande, que não é sacrifício”.
Diego conta que a realidade das pessoas é cruel. “A criança até fica bonitinha na foto, parece fofinha. Mas ela está inchada. Aquilo é um edema pela desnutrição. Ela se alimenta uma vez ao dia, só no almoço, com grãos, servidos com água, comem aquela pasta e só. Tem gente que se alimenta só de manga o dia inteiro”, relata.
Com fome, as pessoas chegam a vender os remédios oferecidos pela ONG para comprar comida. “É fácil entender essa atitude quando a gente tem fome. Damos o remédio sem embalagem, o número contado de comprimidos, porque se der tudo fechado eles vão vender. Porque é melhor ter comida na barriga do que tratar uma infecção. E viver doente é uma realidade para eles”.
Convivendo de perto com a miséria, não tem como voltar para o Brasil do mesmo jeito. “O contato com a miséria é bom para todo ser humano. Por mais que a pessoa fale que não teria coragem de ir, teria sim. A uns choca mais do que a outros. Todo mundo aprende muito e engrandece”.
Até os problemas ficam diferentes. “A gente sai do nosso mundo, onde as pessoas falam em dinheiro o tempo todo. Lá o povo não vive nessa onda. Eles acordam sem saber o que vão comer e dar para o filho. Mas, mesmo assim, têm o sorriso no rosto. Dançam para agradecer. Você vê que a maioria dos seus problemas é você quem cria. Tudo é muito pequeno”.
Quem ainda não experimentou, vale a pena fazer qualquer tipo de trabalho voluntário, recomenda Diego. “Não é necessário ir à África. Às vezes, o filho da sua empregada precisa de um plano de saúde ou um vizinho precisa bater um papo. Qualquer tipo de entrega que você dê – dinheiro, tempo, gesto – traz bem mais benefícios para quem dá do que para quem recebe. Tem um ditado antigo que diz: sempre fica um pouco de perfume na mão de quem oferece rosa. É a mais pura verdade”.
Afinal, todo mundo vai embora um dia. “E o que a gente leva? “Leva o bem que a gente fez”.
"Perto ou longe, a gente pode fazer algo pelo outro. Não precisa ir à África, aqui você pode ajudar”.
"O legado que temos que deixar não é uma conta bancária cheia, mas um mundo melhor”.
(Diego Dalcamini Cabral, médico)

Via: A Gazeta