Ele
tinha certeza: ela o amava. E foi usando desse álibi que ele pisava, magoava e
depois pedia perdão, pois sabia, ela o perdoaria. O coração dela sempre muito
solícito perdoava e se recompôs por diversas vezes. Tentou fazer dar certo,
engoliu os sapos e acabou se engasgando, muitas vezes, com aquelas palavras não
ditas por medo de começar ou prolongar uma briga.
E
então depois dos erros ele apaziguava a tempestade que havia criado e de alguma
forma tentava consertar as suas falhas. Mas depois de um tempo falhava
novamente. Lá estava ele machucando o seu coração com palavras que não deveriam
ter saído do seu pensamento. Lá estava ele dizendo o que não queria ter dito ou
feito isso, mas pela força do momento, pelo impulso, acabou dizendo. Seu
orgulho o cegou. Não conseguia pedir desculpas e deixava o tempo passar. Ela
orava e pedia a Deus para acalmar a tempestade do seu coração; por diversas
vezes chorou baixinho no colo de Deus pedindo respostas. Ela não queria
desistir, ela o amava tanto que só queria que as coisas melhorassem e que o
amor voltasse a ser leve.
Naquele
momento ela entendia perfeitamente o poder das palavras, e como aquelas frases
ditas por ele feriram o seu coração. Como dói ouvir certas coisas de quem
amamos, como fere as desculpas dadas, a indiferença e até o que não é dito,
afinal o silêncio também machuca e nos deixa impotentes diante do outro. Ele
não regava o jardim dela, não plantava flores e não semeava.
Ela
por muito tempo tentou fazer dar certo. Insistiu e tentou recomeçar, usando do
diálogo como ferramenta, deixando o orgulho de lado e exercendo a paciência.
Abriu o seu coração e mergulhou nessa história de amor sem medo. Por diversas
vezes, disse o quanto estava disposta a lutar por essa história, e embora ele
concordasse com a cabeça, não fazia por onde, eram apenas palavras e não
passava de teorias.
Ele
achou que nunca iria perdê-la. Por mais que ela avisasse que um dia iria cansar
ele não deu bola, achou ser fase, momento ou bobagem. Enquanto ela não o deixou
partir, ele partia o seu coração. Os recomeços mais pareciam um fim. Mas um
coração cansado por mais que pulse decide ir porque não aguenta mais sofrer. A
gente cansa de chorar baixinho, de encharcar o travesseiro com lágrimas durante
a madrugada e de parecer bem no outro dia para não ter que explicar tudo o que
aconteceu. Ela cansou de tentar consertar os erros e de ter as suas feridas
sempre cutucadas. O amor de forma alguma dá as costas para a dor do outro. Quem
ama cuida. Protege. Acolhe. Quem ama semeia o jardim do outro e por mais que
traga alguns espinhos, sabe fazer daquele terreno terra fértil. Não insiste
naquilo que machuca, arranca risos e deixa saudade como quem volta depois com
uma rosa.
O
amor é uma via de mão dupla não dá para apenas um tentar construir se o outro
deseja se acomodar. Ele pela força do hábito achava que o que ela fazia era
suficiente, ah como ele gostava de se sentir amado e importante! Como ele
gostava dos agrados, dos sorrisos, das surpresas! Ele gostava mesmo de se
sentir lembrado no meio da semana, na ida ao supermercado e de ganhar o seu
chocolate preferido numa quarta-feira qualquer. Entretanto, ele não se lembrava
dela, não demonstrava saudade e esquecia do interesse. Ele achou que isso não
iria se esgotar. Não regou e deixou morrer o sentimento mais puro que alguém
poderia lhe oferecer. Deixou partir quem fez de tudo pra ficar...
E
então, depois de tantos tombos, falas que feriram o seu coração, e avisos, ela
cansou, pegou as suas coisas e foi, mesmo que a partida doesse mais do que os
espinhos que havia ganhado. Ela no deserto quis florescer e sabia que ali as
flores murchariam. Com a sua partida ele percebeu o seu valor, notou que deixou
ir quem queria fazer morada, deixou ir quem fazia de todo o possível para vê-lo
feliz. Quem sonhava junto e não tinha medo dos vendavais, afinal ela sempre
segurava a sua mão. Mas agora, era tarde demais. Ela prosseguiu como quem sabe
que tomou a decisão certa e ele, que sempre achou que nunca a perderia, acabou
perdendo por não regar o seu jardim e por esquecer de que o amor é uma flor que
precisa ser regada diariamente. Ele se esqueceu de contemplar a sua beleza e
depois de tanto partir o seu coração ela partiu como quem não quer mais um amor
cansado, como quem não quer mais migalhas. A saudade e o arrependimento já não
eram suficientes para tê-la novamente. Aquele seu coração bondoso e disposto a
recomeçar, hoje se tornou um coração decidido a não retroceder ao mesmo lugar que
lhe roubou o seu riso fácil.
Via: Logo Eu