Hoje
me bateu um vazio estranho aqui dentro e isso tá acabando comigo, sabe? Eu
invento pra você e pros outros um discurso que vou bem, tô bem, que é só
cansaço, e que depois eu durmo e me livro dele. Mas é mentira, não me livro
porque não é meu corpo que precisa descansar, é meu coração. Eu até já decorei
um discurso de autossuficiência pra justificar pros outros essa minha solidão
toda, e quando falam sobre relacionamentos eu invento umas desculpas bobas
sobre timing e sobre como eu me sinto bem sozinha. Mentira.
Hoje
mais cedo eu tava observando as estrelas e me bateu uma saudade gigante de
você. Você foi a primeira pessoa que reparou nas minhas covinhas. Elas são
teimosas e meio tímidas, não aparecem em qualquer situação, mas sempre dão as
caras quando eu me perco em um sorriso bobo. E eu não consigo me sentir assim
se não for com você. Porque você foi a primeira pessoa que mexeu no meu cabelo
e eu não senti incômodo nenhum com isso, até me senti bem. Era como se eu tivesse
descoberto no teu cafuné alguma válvula de escape da realidade, sabe? Sempre
gostei do jeito que a tua mão tocava na minha e de como você me olhava. Você me
devorava por dentro e eu queria, por favor, parar o tempo antes que ele parasse
nós dois. Queria poder estagnar o mundo naquele momento pra te ter aqui pra
sempre. Mas eu não consegui.
E
eu questiono o tempo sobre esse afastamento de nós dois. Será que isso tudo é
necessário mesmo? Porque eu sinto um medo gigante de que seja, de que ele
afaste a gente por completo e eu desabe de uma vez por todas. Não consigo mais
imaginar o que seria de mim sem a esperança de ter você aqui de novo. Nem em
casa eu me sinto em casa mais, e é porque não tem você. Louco, não?
Noite
passada eu desabafei com o meu travesseiro e contei pra ele o quanto você foi a
melhor pessoa que eu conheci em toda minha vida. Cê lembra daquele dia em que
você correu de mim na praça? De pés descalços no meio da selva de pedra. Eu
transformava os prédios em lírios pra sentir a gente dentro de uma daquelas
cenas bonitas de filme que terminam com um beijo desajeitado e um sorriso bobo.
Daqueles que a gente acha ridículo até se apaixonar e perceber o quanto é
bonito, daqueles que eu sempre neguei e condenei no meu discurso de
autossuficiência, e que daria tudo pra viver de novo com você. E no fim da
nossa corrida não tinha uma toalha xadrez perfeitamente mal estendida e uma
cesta de piquenique, só um bêbado que a gente tentou ajudar e cacete, até isso
foi incrível; como tudo fica bonito quando eu tô do teu lado – ou eu que tenho
essa mania de romantizar tudo, não sei, mas acho que você me entende. Pelo
menos uma vez você disse que entendia.
Eu
nunca te disse, mas eu ainda guardo a pulseirinha daquela festa no meio do meu
livro favorito. Nunca tive coragem de jogar fora qualquer fragmento de nós
dois. Não contei isso pra ninguém, mas eu nunca gostei de alguém assim. A
rotina tem me massacrado, mas dia desses, quando você se desocupar, quando você
se livrar um pouco das tuas obrigações todas, eu passo aí só pra te dizer o
quanto eu te quero bem e pra te lembrar que ainda tô aqui se você quiser tentar
de novo.
Eu
nunca entendi direito esse medo de nós dois, e por isso eu te peço: desculpa se
estraguei o início da história pra você. Porque no fim das contas eu espero
que, de verdade, esse seja só o início mesmo, e que essa nossa história dure
bem mais do que isso. Que esse hiato seja só uma daquelas coisas que a gente
vai lembrar depois enquanto ri entre um gole de cerveja e outro. Porque foi
nesse nosso hiato que eu descobri que te amo pra caramba, e espero que esse
seja só o início de nós dois.