O
tempo corre, a vida passa e tudo vai tomando seu rumo, às vezes perto, outras
vezes bem longe de nós. Às vezes com duração longa, outras vezes rápido demais.
E então o próximo vai se tornando distante, o certo fica duvidoso, o que foi
intenso se transforma em raridade e o hoje se perde em meio à saudade do ontem
e às expectativas do amanhã.
A
infância, a adolescência e a juventude vão embora, levando os amigos
imaginários, a inocência e a ingenuidade, os sonhos impossíveis, o cheiro de
grama molhada. Vão-se as paixões, o primeiro beijo, as espinhas, os cabelos nos
ombros. Os ideais, o espírito rebelde da liberdade a qualquer preço, as
contestações frente ao mundo em que não nos encaixamos.
As
pessoas vão embora, enquanto amargamos as decepções amorosas, as traições de
quem colocamos na frente de todos, o fim de várias certezas que achávamos
inabaláveis. E se vão os empregos, a estabilidade, o equilíbrio emocional, a
paciência, a vontade de mudar o mundo, o desejo das coisas para ontem, o
desfrute descompromissado do aqui e agora.
Os
avós, os pais, familiares, muitas pessoas especiais se vão, aos poucos ou
repentinamente, colocando-nos frente a frente com a inevitabilidade da morte,
trazendo a dor diante da conscientização acerca da finitude das coisas e das
pessoas. E acabam levando junto o porto-seguro, nosso lar, para onde podíamos
voltar, mesmo que em pensamento, para que nos sentíssemos mais seguros, quando
dos tombos que a vida dá.
Os
filhos partem, criam asas, viram gente e saem de casa, às vezes de uma maneira
nada amigável, outras vezes com relutância e medo, mas têm de ir; não existe
outro jeito. Junto com eles, vão-se as presenças constantes, o controle que já
nem se tinha de verdade, o bom dia mal-humorado, as esperas ansiosas da
maçaneta da porta se abrindo, ao final das madrugadas no fim de semana.
Cabe-nos,
portanto, reter em nós o melhor de tudo o que já fez parte de nossas vidas,
usando as lembranças em nosso favor, como bálsamo e combustível motivador de
nosso seguir em frente. Muito se vai enquanto a gente fica. Sim, a gente fica
menos acompanhado, a gente fica doído, porém bem mais forte, mais vivido, mais
experiente, mais humano. Fica à mercê o curso do tempo, das idas e vindas do
que fez, faz e sempre fará parte de nós.
É
dessa forma, afinal, que nossa vida se torna mais rica, mais mágica, mais digna
de ter sido vivida, sofrida e aproveitada em toda dor e alegria que é tão
humana, tão nossa, tão doída, tão bela.
Via: O Segredo