Fim
de ano é a hora de fazermos uma reflexão. Este artigo levanta algumas questões
sobre o que esperar para o próximo ano.
Nós
esperamos tantas coisas para o próximo ano: saúde, felicidade, dinheiro, emprego,
amor, conquistas e conquistas. Esperamos fazer tudo diferente no ano novo,
esperamos ser diferentes, esperamos mais o novo do que o ano. Nós esperamos e
desejamos, e às vezes, só; apenas isso. E esperar ou desejar não é fazer. É
impossível se chegar a um lugar sem se mover. O ano novo são expectativas
porque o ano novo é futuro. No futuro depositamos esperanças, planos, projetos
que só vão se realizar quando o futuro deixar de ser futuro. O futuro é a
construção de Dédalo onde podemos errar pela vida inteira sem encontrar a
saída. O futuro é a ninfa Calypso a nos seduzir eternamente para que não
saiamos do lugar, como tentou fazer com Odisseu. O futuro só funciona no
presente.
Esperamos
para o próximo ano: saúde. Mas como estamos tratando o nosso corpo hoje? O que
comemos? O que bebemos? O quanto descansamos? O quanto nós nos exercitamos? A
saúde é um ato contínuo que começou ontem e obedece a lei do equilíbrio. Todo o
excesso ao corpo é punido; tudo deve ser dosado; pois, não há proibições e
permissões para se ter saúde, há discernimento.
Esperamos
para o próximo ano: felicidade. A felicidade não vem. A felicidade está.
Desejamos que a felicidade nos encontre no futuro, mas sempre falamos dela no
passado: “Eu era feliz naquela época”.
A felicidade não está no futuro e nem está no passado. E outra coisa, a
felicidade não está em outra pessoa. A felicidade está aqui e agora e conosco.
Cabe a cada um de nós percebê-la, por isso, temos que ficar atentos para
identificar nos pequenos detalhes a sua presença.
Esperamos
para o próximo ano: dinheiro. Para se ter dinheiro é preciso economizar e por
que não começar agora, no fim de ano? Mas, antes, temos que refletir sobre a
importância que damos ao dinheiro. Temos que apurar este câmbio, ou seja, a
relação entre dinheiro e valores. Depois de fazermos esta autoavaliação pode
ser que cheguemos à conclusão que o dinheiro que queremos vale menos do que a
nossa vida.
Esperamos
para o próximo ano: emprego. O emprego não é apenas ocupar espaço em um lugar.
Emprego é trabalho. Trabalho é mais fácil encontrar do que emprego. Emprego sem
trabalho não dignifica e não nos edifica.
Esperamos
para o próximo ano: amor. Não se espera o amor, faz-se o amor. Quando
idealizamos o amor, jogamos o nosso sentimento no ponto futuro e forçamos a
visão para encontrar, na linha do horizonte, alguém que caiba no que
idealizamos perfeitamente. Perdemos tempo demais nesta fantasia vã. Tiremos a
fantasia da cabeça, desnudemos a nossa alma e enxergaremos as pessoas de
verdade. Assim encontraremos o amor, que deve estar entre o que somos e o que
queremos. Afinal, não somos perfeitos, por isso não podemos cobrar perfeição
dos outros.
Esperamos
para o próximo ano: conquistas e conquistas. Conquistar não é ter, dominar,
ganhar... conquistar é ser. A verdadeira conquista é ser útil a alguém, mas sem
pensar em proveito, céu, paraíso, abono, recompensa ou gratidão. Ser útil
apenas por achar que é o melhor a se fazer... isso é uma conquista. A conquista
do ser.
Esperamos
para o próximo ano sermos diferentes, fazermos coisas diferentes, desejamos
sempre o novo. Mas pode ser que o que vai nos fazer mudar não seja nada novo.
As coisas antigas são ótimas para nos fazer mudar, coisas velhas e quase
ultrapassadas como: amor, amizade, carinho, lealdade, reflexão, perdão e
sinceridade.
Esperar
e desejar. Esperar nos deixa imóveis. Desejar... Seguindo uma lógica lacaniana,
o desejo é insaciável. Então para o próximo ano: façamos! Mas façamos agora,
pois, o futuro é este presente que se prolonga.
Via: Obvious