Tenho
mania de tirar o esmalte das unhas. O esmalte está lá, todo bonito e reluzente,
e de repente minhas mãos distraídas riscam a textura cintilante que recobre a
ponta dos meus dedos. Absorta em meus pensamentos, só percebo o estrago tempos
depois, o que gera arrependimento, constrangimento e alguma tristeza.
Do
mesmo modo, muitas vezes estragamos os presentes que a vida nos dá. Distraídos
e alheios à alegria de estar onde estamos, rodeados pelas pessoas que amamos,
não damos o devido valor ao que deveria ser valorizado. Tempos depois, revendo
fotos antigas, ouvindo músicas de um tempo bom ou saboreando delícias que
remetem à uma época feliz, murmuramos saudosos que “éramos felizes e não sabíamos...”
É
preciso se saber feliz. É preciso se lambuzar de alegria presente e ser grato
pelo que se concretizou em nossa vida.
Todos
já passamos por sustos que provam que a vida é feita de altos e baixos. Por
isso há que ser feliz na varanda dos dias, quando ainda há luz e calor. Não
deixar para depois o reconhecimento de nossas dádivas, presentes que querem ser
desembrulhados agora, com a euforia de meninos na noite de Natal.
Não
deixe empoeirar os presentes que você recebe hoje. Não permita que a ferrugem
do tempo estrague o brilho de suas realizações ao perceber, tarde demais, que
abriu mão de suas maiores riquezas na ânsia de ser “muito” mais feliz.
Tem
gente que espera ser feliz no próximo ano, no próximo aniversário, na próxima
primavera. Não percebe que a felicidade não obedece a calendários nem floresce
de acordo com as estações do ano. A felicidade acontece numa fagulha de
instantes, e é preciso olhos atentos para não perdê-la.
Por
isso é primordial fazer pactos com o presente e amar a vida que se tem. Cuidar
daqueles que escolheram partilhar a vida conosco e olhar para trás com
gratidão, nunca com nostalgia ou arrependimento.
O
novo ano nos traz esperança. Porém, mais que pedir, devemos agradecer e cuidar.
Agradecer o tempo de descanso ao acordar; agradecer o cheirinho de café nas
primeiras horas da manhã; agradecer nosso trabalho; agradecer os amigos com
quem dividimos nosso dia (tão próximos ou tão distantes - a internet nos
aproximou tanto...); agradecer nosso lar, nossos filhos, nosso par...
Não
adie a oportunidade de ser grato pelo que você tem. Suas possibilidades são
dons preciosos, e você precisa saber enxergar e agradecer. Ame o que é seu, e
conduza seu barquinho com a fé dos que acreditam navegar em águas mansas e
deliciosas.
Não
espere fogos de artifício quando a sorte lhe sorrir. A sorte é silenciosa, e
você pode deixar passar simplesmente porque não soube enxergar.
Que
venha o novo ano, as novas conquistas, cheirinho de roupa nova, esmalte
cintilante e perfume borrifado no pescoço. Que haja fé e esperança, alegria e
bonança. Mas que, principalmente, não nos falte a gratidão. A capacidade de
amar o que temos para que a vida não nos ensine a amar o que tivemos...!