Trocaram
olhares profundos e nunca mais se viram os mesmos. Não sabiam nada sobre o
amor, então, não fantasiaram um romance, nem idealizaram a forma com que
aconteceria. Aquela foi a primeira vez para os dois e sabiam disso porque nunca
haviam sentido nada igual. A verdade é que ela não tinha nada de especial,
exceto pra ele que a via como a mulher mais linda do mundo. E ele não tinha
nenhum diferencial dos outros caras que ela já tinha namorado, exceto que ela o
via como único...
Já
ouvi histórias como essa, de amor à primeira vista. E do fracasso da relação
com o tempo, já que se baseava apenas numa fantasia sobre suas qualidades
criada na instância de um segundo. Mas no caso deles era diferente, é sério.
Não vou dizer que era amor porque não foi. No entanto, cá entre nós, quantas
vezes em que nos perdemos no infinito de um sorriso é de fato amor? Se apaixonar
exige criatividade, a verdade é essa. A gente tem que ter muita imaginação pra
se empolgar com mensagens de textos supondo sua entonação, pra ansiar por
encontros casuais que nos façam suar as mãos e ensaiar diálogos inteiros de
declarações audaciosas que nunca serão ditas.
Ninguém
quer acreditar em contos de fadas, mas quando eles se abraçavam e desejavam em
um constrangedor silêncio que assim permanecessem para sempre, sentiam como se
fosse a primeira vez que merecessem acreditar. Que tudo que haviam vivido até
aquele momento, incluindo as imensas falhas, os tropeços e as marcas
irreparáveis, foi um mero acerto de contas durante o caminho para que
aprendessem como valorizar aquele final feliz. Porque, no fundo, tinham certeza
que haviam chegado ao fim, que não podia existir mais alguém que lhes fizesse
transbordar de sentimentos daquele jeito. Mas como eu disse, isso não era amor,
contudo, eles demoraram um bom tempo para descobrir.
E
para onde quer que ele fosse sentia a falta dela em uma pontada fina que
entornava com água ardente. Enquanto ela esperava em todo canto ser
surpreendida com um encontro casual ou, sei lá, uma serenata à janela. Ele era
orgulhoso demais para admitir o bem que se faziam juntos, e ela presunçosa
demais para assumir o mal que se faziam com a ausência. Eles nem sequer sabiam
contra o que lutavam. Já haviam passado por tanto que até suas mágoas tinham
sido trocadas por saudade. Queriam apenas ser um, mas se cobravam a plenitude
dos acertos de vários outros.
Se
parassem pra pensar francamente, não conseguiriam listar um motivo sequer para
não ficarem juntos. No entanto, davam tanto ouvido para o que os outros achavam
que fosse o melhor pra eles que deixavam escapar sua melhor chance de errar por
conta própria. Para ele, faltou atitude. Para ela, faltou coragem. E como se
não merecessem um final feliz, passaram a acreditar que por não terem
aproveitado a chance, não era mesmo amor. Trocaram olhares profundos e nunca
mais puderam ser os mesmos. Acontece que todo mundo precisa de umas boas doses
de loucura e paixão ao longo da vida até entender que amor só existe pra quem
acredita e se dispõe a fazê-lo acontecer.
Via: Bendita Cuca