A
felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso
das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal
arisco. Tem que ser admirada à distância porque não aceita a jaula que
preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade
tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.
Felicidade
é chuva que cai na madrugada, quando dormimos. O que vemos é a terra
agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora
da ressurreição.
Felicidade
é coisa que não tem nome. É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais
belos e falantes. Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero. É olhar
de amigo em horas de abandono. É fala calmante em instantes de desconsolo.
Felicidade
é palavra pouca que diz muito. É frase dita na hora certa e que vale por livros
inteiros.
Eu
busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus
escrito na minha geladeira... Eu vivo assim... Sem doma, sem dona, sem
porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha
bandeira. Eu quero a felicidade de toda hora. Não quero o rancor, não quero o
alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja
aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas.
O
que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo. Isso sim é
felicidade sem medidas. O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de
humor, o choro vez em quando.
Felicidades
pequenas... O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à
distância, sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar
preferido.
A
felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito. Não forço para que seja
como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.
E
então sorrio, como quem sabe, que quando ela chega, o melhor é não dispersar as
forças... E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.
O
que hoje você tem diante dos olhos? Merece um sorriso? Não pense duas vezes...
Padre
Fábio de Melo