Somos
movidos por alcançar o que ainda não temos, por chegar aonde nunca fomos, por
sentir o que nos é novidade. O novo atrai, desperta interesse, fascina, no sentido
de que se incomodar com o cômodo é o que move a renovação dos sonhos e
esperanças do movimento contínuo das vidas. No entanto, dentro de nós, há
necessidade de mantermos algumas permanências que nos sustentam o equilíbrio e
a serenidade com que devemos pautar nossa jornada diária.
Alguns
sentimentos, emoções e determinadas pessoas devem ter um lugar permanente em
nossas vidas, mesmo que mudemos para outros lugares, mesmo que partamos para
novos projetos, mesmo que o mundo lá fora nos intime a experimentar algo novo e
supostamente melhor. Sempre será necessário voltarmos os olhos para dentro de
nós, para nos certificarmos de que muito do que já faz parte de nossa jornada,
do que temos conosco, é imprescindível ao nosso respirar com alento e
serenidade.
Da
mesma forma, teremos que prestar atenção ao que realmente significamos na vida
de alguém a quem nos entregamos, para percebermos se somos prioridade na vida
do outro. Não no sentido de que ele deva nos idolatrar acima de tudo, mas sim
se os seus olhos nos procuram com necessidade íntima, se somos parte integrante
em suas lembranças, se nossas mãos se entrelaçam com calor humano em momentos
de ternura vívida.
Assim
como temos que regar e alimentar os nossos sentimentos para com as pessoas, é
necessário que sintamos a mesma atitude por parte do outro, pois nenhum
relacionamento sobrevive de um lado só. Aguardarmos o dia todo por alguém que
mal chega ao nosso lado e não tira os olhos do celular, da televisão ou de
dentro de si nos destitui de quaisquer traços de significância, de dignidade,
de valor próprio.
Não
deixemos ir embora quem esteve ao nosso lado sob chuvas e trovoadas, quando
ninguém mais havia ao redor, quem sempre achava um jeito de nos trazer um
sorriso, de nos levantar os ânimos, de nutrir admiração real. Mas também não
deixemos ficar junto quem não faz a menor questão de estar ali, quem não
demonstra um mínimo de consideração por tudo o que fizemos, por nada do que
somos. Que vá embora quem fica sem estar de verdade.
Fiquemos
com quem dorme e acorda ao nosso lado notando a nossa presença, pois, caso
insistamos em permanecer onde predomina o vazio, acabaremos nos afastando de
qualquer chance de realizarmos os nossos sonhos de vida. Ninguém, afinal, há de
merecer perder-se no vazio de uma entrega solitária, pois sempre encontraremos
alguém a quem seremos interessantes ao longo do tempo, sem desculpas, sem
demoras. É aí que deveremos, então, estacionar a nossa alma.