Luíza
sempre quis amar. Dizia, loucamente, querer encontrar um amor para a vida
inteira – seja lá quanto ela durar. Conheceu pessoas incríveis, com histórias e
vivências incríveis. Beijou quem desejou. Abraçou quando sentiu saudade.
Viajou,
juntou algumas milhas, viajou mais um pouco. Das possibilidades da vida, Luíza,
fez todas. Ela era inteligente, bonita, usava um perfume que deixava qualquer
um desprovido de elogios por minutos, escrevia muito bem, conhecia o mundo e,
acreditem se quiser, ainda sabia fazer bruschettas como ninguém. Em outras palavras,
Luíza era apaixonante.
Luíza
era eufórica por tudo que o mundo poderia proporcionar. E, mesmo tendo alguns
amores soltos por aí, sinceramente, ninguém sabia como ela ainda estava
solteira. Ela nunca se laçava a nada, sempre achou que a vida poderia ser mais.
Desprendida dos amores, das liberdades, das regras, ela viveu a intensidade sem
se preocupar com a calmaria do futuro. Achou que a vida era liberdade, sendo
que, na verdade, é só uma prisão confortável.
Sem
perceber, ela foi descartando todos os possíveis amores de sua vida. Mal sabia
ela que os grandes amores, nem sempre, surgem como grandes amores. Ela sempre
achou que a vida fosse mais. A toda a hora encontrava defeitos em todos que,
gentilmente, tocavam em sua porta. Carlos, era tudo o que uma mulher procurava,
mas aqueles dentes tortos, ela, Luíza, não merecia. Frederico tinha um beijo
doce e sorria sem expectativas, mas ela ficava agoniada com a maneira que ele
mexia as mãos enquanto falava. Marcelo tocava violão, cantava e cozinhava como
poucos, mas se vestia tão mal, tão mal, que ela ficava com vergonha de sair à
rua com ele. Nelson, era atencioso e a mimava como ninguém, mas, não sei, ele me
sufoca um pouco, dizia Luíza.
De
defeito em defeito, de “eu gosto dele,
mas sei lá” em “ele é demais, mas...”,
ela foi deixando os amores passarem. Luíza sempre achou que encontraria algo
que, infelizmente, não existia. Queria alguém com todas as qualidades dos
amores passados e mais algumas que, volta e meia, decidia de súbito. Ela
gostaria de alguém que soubesse amar intensamente, mas que também não fosse um
grude por inteiro. Alguém que tivesse uma beleza exótica, mas não fosse refém
das loucuras da moda. Ela adoraria estar ao lado de alguém engraçado e
divertido, mas que, obviamente, não fosse pedante ou insistente. Alguém que soubesse
diferenciar artistas contemporâneos de expressionistas, mas que tivesse leveza
ao conversar sobre as coisas simples da vida. Ela queria alguém que não fosse
de todo ciúmes, mas que, em breves detalhes, demonstrasse proteção. Ela
gostaria de alguém que, como ela, gostasse de comer coisas naturais, mas que,
quando ela quisesse, também se esbaldasse num pote de sorvete. Luíza queria um
meio termo de perfeição, tinha pré-requisitos mesquinhos demais para a grandeza
de um simples amor. Luíza achava que era livre, que tinha gostos simples e que
merecia um amor assim, mas, talvez, ela só fosse mimada com as suas vontades.
Os
anos se passaram e, sempre achando que a vida poderia ser mais, quem passou foi
Luíza. Os amigos casaram, os colegas se tornaram meros desconhecidos, a família
se foi e os amores viraram histórias, de alegria e arrependimento. Luíza criou
manias e vícios de solidão, inserir alguém em sua vida, nesta altura do
campeonato, se tornaria um rasgo grande demais. Ela fez escolhas. Ganhou lembranças
que renderiam alguns livros, mas, infelizmente, não tem ninguém para contar.
Luíza ficou sozinha, não teve filhos, não manteve um amor – por mais cotidiano
e simples que ele poderia ter sido. Luíza escolheu ter todo o mundo em todos os
instantes, e o mundo, no fim da sua vida, lhe deixou sozinha.
Luíza
não passou pois, naturalmente, envelheceu, mas porque nunca se deixou prender
pelos pequenos grandes amores; ela queria sempre mais. Viveu uma intensidade
irreal e perdeu o perfume do simples. Luíza viveu um pouco de tudo, mas nunca
tudo com pouco. Hoje, ela está sozinha, sorrindo para quem pergunta como ela
anda, mas, todo dia, lembra como a intensidade constante é uma grande injustiça
com os grandes amores que passam e nem percebemos. Afinal, ela sempre quis
mais.
Via: Me Apaixonei