Tenho
o costume de escrever cartas para Deus. Como tudo em minha vida termina em um
bloquinho de papel e uma caneta, esta é a forma mais fácil de entrar em contato
com o sagrado que há em mim.
Esse
hábito vem de um tempo distante, em que era comum viver dando cabeçadas e
acreditar que jamais “daria certo” ao
lado de alguém. Eu sofria a perda de um grande amor, e não conseguia imaginar
outra pessoa (realmente boa) para ocupar esse lugar no meu coração. Então
resolvi jogar o problema para Deus. Escrevi uma carta longa, em que eu
descrevia, tim tim por tim tim, como deveria ser esse alguém. Parecia exigência
demais, mas eu queria ser bem específica no querer. Passado algum tempo (não me
lembro quanto), conheci meu futuro marido. De imediato não me lembrei da carta,
mas um dia encontrei-a no fundo de uma caixa, e qual não foi minha surpresa ao
perceber que aquele homem correspondia fielmente à descrição que eu pedira a
Deus?
Tudo
isso tem ares de literatura tipo “O Segredo”, e não gosto de pensar assim.
Porém, acredito que nossa realidade mental é muito mais ampla do que podemos
imaginar, e pode sim direcionar nossa realidade externa em maior ou menor grau.
A
gente tem que ter cuidado com o que deseja. Porque bem lá no fundo de cada um,
uma luz se acende com nosso querer, e faz de tudo para não se apagar enquanto a
gente não realizar o que anseia, mesmo que inconscientemente.
Você
sabe realmente o que está desejando? Tem sido responsável com seus pensamentos
e desejos? Sabe em que medida a vida concorda com seus mais secretos sonhos?
Muitas
vezes o medo ceifa a concretização de nosso desejo. Então mesmo querendo muito
alguma coisa, nosso medo boicota nosso destino, e assim nada se concretiza.
Quantas vezes ouvi histórias de mulheres tentando engravidar, que só conseguiram
depois que adotaram? Talvez o medo de tentar e não conseguir acabe sabotando a
concretização dos planos. Mas a partir do momento que adota (e, portanto, não
fracassa), relaxa com o medo e consegue.
Do
mesmo modo, boicotamos nossos planos de encontrar alguém para partilhar a vida,
mudar de emprego, abrir um negócio próprio, ter um segundo filho, se dedicar
pra valer a um sonho, viajar pra um lugar distante, aprender a dançar, largar o
namorado, assumir uma nova identidade, ir para a terapia, praticar algum
esporte. Tudo são desejos, mas no fundo queremos realmente que se concretizem?
Será que desejamos o bastante?
Que
nosso desejo não seja diminuído por nossos medos, e que nossa capacidade de
sonhar não se perca nos vapores do tempo.
Que
a gente siga acreditando que pode melhorar nossa realidade a partir de nossos
próprios pensamentos, e que nunca nos falte a capacidade de sorrir, aceitar os
colos e abraços, e recomeçar de um jeito novo, sem a companhia da desesperança.
Que
a gente não desista de tentar, arriscar, desejar. E que permaneça acreditando
na ternura e alegria, mesmo quando tudo é só ventania.
E
que não nos falte coragem, pois desejar o que se quer e saber o que devemos
atrair não é tão simples como deveria ser.
Que
haja sabedoria e humildade. Alegria e coragem. E que não nos falte ânimo para
superar os desejos frustrados e as mudanças de rota, partes do processo lindo
que é simplesmente viver...