Já
perdi as contas de quantas vezes dei tiros certeiros em meus próprios pés. E
verdade seja dita, vivo vendo isso acontecer por aí com as melhores pessoas.
Gente que se submete a empregos medíocres porque não confia na própria
capacidade de arranjar coisa melhor. Gente que se apega a relacionamentos
falidos ou desiste de amar porque não se acha interessante, porque se acha
feio, porque tem medo de sofrer. Gente que engole uma vida sem tempero porque
tem medo de se arriscar. E, sim, eu me incluo nessa história aí! Me incluo
mesmo!
A
gente vive é assombrado por fantasmas vestindo togas de falsa moralidade. Temos
pavor de não sermos aceitos ou de não termos a permissão do outro para fazer
parte de algum círculo secreto dos escolhidos. Ahhhh... mas isso aí de “escolhidos” não existe. Não. Não existe
mesmo. Então, me explica, porque é que parece haver uma organização ilógica no
universo que garante a tanta gente medíocre uma espécie de vida destinada ao
sucesso? É sorte? Será então que tem mesmo gente que nasceu com a bunda virada
para a lua?
E,
quer saber... tem hora que eu quase acredito nisso. Quase. Aí, eu crio juízo –
ou encontro algum – e volto a pensar com a cabeça fria. Acreditar que a nossa
trajetória depende de sorte, é quase tão infantil quanto esperar ganhar algum
dinheiro da fada do dente. Crianças podem – e devem – alimentar essas crenças
nos poderes mágicos das coisas. E quem nos dera sermos crianças por mais tempo.
Mas o tempo segue célere e a única saída é arranjar um jeito de acompanhá-lo.
Ou, ficar sentado no chão, emburrado e resmungando.
Resmungar
é tão eficiente quanto beber água salgada para saciar a sede. Não apenas é
inútil, como também é perigoso. Resmungar nos impede de usar energia boa para
virar o jogo, ou, pelo menos, evitar perder de goleada.
Além
do mais, quem é que aguenta ficar muito tempo ao lado de gente que passa a
maior parte do tempo suspirando e reclamando da sorte? Por algum tempo, o “reclamão” pode até conseguir alguma
audiência e mobilização do entorno para ouvi-lo e tirá-lo do buraco. Mas, não
há boa vontade que resista a um “coitadinho
eterno”.
Ventos
do acaso à parte, a parte que nos cabe é perceber que a sorte é uma espécie de
ingrediente à mais para a receita de um bolo bem-sucedido, fofinho, saboroso;
daqueles que todo mundo quer comer mais um pedaço. A sorte é tipo a essência de
baunilha, sabe? Dá um gostinho todo especial, mas não dá sustância – como diria
a minha avó. Experimenta colocar baunilha numa receita de bolo e esquecer o
fermento. Não vai prestar!