O
comovente relato de quem aprendeu a amar mais quando já não podia esperar nada
em troca.
Até
onde pode chegar o amor? Confira este relato impressionante de um homem cuja
esposa sofreu com a doença de Alzheimer. Publicado pela orientadora familiar espanhola
Orfa Astorga de Lira:
“Foram mais de cinquenta anos
juntos. Entre muitas coisas, sentirei falta de suas exigências para que eu
fosse uma pessoa melhor, pois você sempre teve expectativas muito superiores do
que as minhas a respeito de mim mesmo. Isso sem falar do seu esforço por sua
própria superação. Agora sinto falta e preciso dessas exigências, que antes
foram motivo para que eu resmungasse.
Meus filhos me visitam
frequentemente e passam o fim de semana comigo, ou eu com eles. Algumas vezes,
os surpreendo a me olhar com ternura e posso adivinhar os seus pensamentos:
“Pobre papai! Como deve sentir falta dela!” Escutei-os recebendo condolências
de seus amigos, em diálogos com comentários bonitos sobre como eles viam o
nosso amor: quanto tempo viveram juntos; como eram felizes convivendo; como se
comunicavam bem; como tinham interesses em comum; e tantas outras coisas.
Sim, esses comentários refletem a
realidade, mas apenas uma parte dela. Não conseguem descrever a mais profunda e
total realidade de nosso amor, que estava muito acima de tudo aquilo. Foi o que
eu descobri apenas no final do caminho, no processo da enfermidade da minha
esposa.
Ela teve Alzheimer. Chegou ao
ponto de não saber quem eu era. Mas eu, mais do que nunca, sabia quem era ela.
Tive o dom de poder ver seu lado angélico por trás de seu rosto inexpressivo.
Assim, eu podia evocar seu sorriso intenso, a agudez de suas intuições ao me
compreender, suas broncas e irritações amorosas, sua alegria de viver, sua
exigência por sermos melhores.
Era como se eu tivesse um
passarinho entre minhas mãos. Não podia me oferecer uma companhia dialogante ou
me ajudar nas circunstâncias de minha vida. A menor de minhas necessidades, que
ela costumava atender assim que a percebia, estava agora muito além de suas
possibilidades. Para mim, era o momento de intenso sacrifício, de abnegação.
Eu cuidava dela pessoalmente
tanto quanto eu podia. Todo meu ser era para ela. Todo meu ser para ela! Foi
assim que compreendi uma dimensão do amor conjugal que sempre tinha estado ali
e que com certeza ela já conhecia. Essa dimensão iluminava com raios de sol
nossa relação, tornando-a mais íntima do que nunca. Uma dimensão em que
tínhamos construído e reconstruído nosso amor dia a dia.
Todas as manhãs, eu ornava o seu
quarto com crisântemos – a sua flor preferida. Eu lia para ela poemas de amor
compostos por mim, cantava, contava piadas, dançava com ela e entoava canções
de ninar. Aprendi bem a lição que ela me deu: a amava com um amor que me fazia
ser melhor, até o último instante, quando Deus a levou.
Compreendo que os casamentos
jovens sabem pouco sobre o amor nessa dimensão. Mas é uma etapa pela qual terão
que passar, pois o casamento é uma relação de perfeição recíproca dos cônjuges
em todos os planos da vida – desde o mundo do cotidiano até o mundo da mais
estrita intimidade. É assim que se realiza o desvelamento da realidade pessoal
de cada um – um desvelamento que permite a correção dos defeitos e o
desenvolvimento das virtudes, contando com a ajuda e o apoio amoroso do
cônjuge.
Por isso, eles são um bem um para
o outro. Minha esposa foi e será o maior bem que a mão de Deus pôs em minha
vida, e por isso agradeço muito a Ele”.
Via: Aleteia