Amor
que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor.
O
amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem
perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei
dizer quem você mais amou.
O
amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no
momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele
e diz: “Mesmo fazendo tudo errado eu não
sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não
estiver por perto.”
O
amor nos possibilita enxergar lugares do nosso coração que sozinhos jamais
poderíamos enxergar.
O
poeta soube traduzir bem quando disse: “Se
eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse os sonhos dentro de mim e vivesse
na escuridão. Se eu não te amasse tanto assim talvez não visse flores por onde
eu vi, dentro do meu coração!”
Bonito
isso. Enxergar sonhos que antes eu não saberia ver sozinho. Enxergar só porque
o outro me emprestou os olhos, socorreu-me em minha cegueira. Eu possuía e não
sabia. O outro me apontou, me deu a chave, me entregou a senha.
Coisas
que Jesus fazia o tempo todo. Apontava jardins secretos em aparentes desertos.
Na
aridez do coração de Madalena, Jesus encontrou orquídeas preciosas. Fez vê-las
e chamou a atenção para a necessidade de cultivá-las.
Fico
pensando que evangelizar talvez seja isso: descobrir jardins em lugares que
consideramos impróprios.
Os
jardineiros sabem disso. Amam as flores e por isso cuidam de cada detalhe,
porque sabem que não há amor fora da experiência do cuidado. A cada dia, o
jardineiro perdoa as suas roseiras. Sabe identificar que a ausência de flores
não significa a morte absoluta, mas o repouso do preparo. Quem não souber viver
o silêncio da preparação não terá o que florir depois...
Precisamos
aprender isso. Olhar para aquele que nos magoou, e descobrir que as roseiras
não dão flores fora do tempo, nem tampouco fora do cultivo.
Se
não há flores, talvez seja porque ainda não tenha chegado a hora de florir.
Cada roseira tem seu estatuto, suas regras...
Se
não há flores, talvez seja porque até então ninguém tenha dado a atenção
necessária para o cultivo daquela roseira.
A
vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão
juntas. Não queira uma só. Elas não sabem viver sozinhas...
Quem
quiser levar a rosa para sua vida, terá que saber que com ela vão inúmeros
espinhos.
Mas
não se preocupe. A beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos... ou não.
Padre Fábio de Melo