“Repara
bem no que não digo.”
(Paulo
Leminski)
Há
alguns meses uma amiga de longa data ficou chateada com algo que postei e me enviou
vários áudios falando tudo que ela achava sobre mim e que não soavam nem um
pouco como elogios, ela terminou com a famosa frase que a
turma-dos-extremamente-sinceros usa para tentar amenizar o peso de suas
palavras: “estou falando isso porque
gosto de você, porque sou sua amiga”. Após o ocorrido não nos falamos mais,
eu até pensei em procurá-la para conversarmos pessoalmente, mas achei melhor me
calar.
Calei-me
porque o que eu queria dizer para ela também não vinha do melhor de mim: que
ela estava infeliz com suas escolhas e incomodada com as minhas, que ela não
estava falando nada daquilo porque gosta de mim ou porque é minha amiga, mas
para esgotar sua raiva e frustração, para se sentir melhor. Ela estava dizendo
aquilo por qualquer outro motivo, menos porque se importava comigo. E isso me
fez entender que naquele momento da nossa amizade não existia mais espaço para
diálogos construtivos, então era melhor calar.
É
certo que nos tempos atuais, com tanta facilidade de comunicação o que não
sobra são opiniões rápidas e sinceras, que em sua maioria, são desprovidas de
afeto ou cuidado. Mas, o pior tipo de informação é aquela que não foi pedida,
que vem de graça e sem avisar. Não tem cuidado, não tem carinho. E palavras
sinceras sem afeto, sem contexto, sem um convite para serem faladas, não são
sinceridades, são retaliações. Quem fala o que pensa, sem se preocupar com a
maneira, com o meio ou em como isso pode ser recebido pelo outro, não é
sincero, é insensível.
Em
situações assim calar não é uma escolha arrogante, mas sim respeitosa. É
importante preservar o que foi bom na relação e o outro. Diálogos construtivos
somente são feitos quando existe disponibilidade emocional de ambas as partes,
e é difícil criar essa disponibilidade em momentos de raiva, tristeza ou
tensão.
O
escritor japonês Haruki Murakami escreve em seu romance 1Q84: “Se você não consegue entender uma coisa sem
receber explicações, você continuará não entendendo, apesar das explicações”.
Pois é, existem muitas pessoas que não entenderão nossas explicações e
situações que não precisam ser conversadas. Levei tempo para entender isso e
para aprender que em alguns momentos na vida é preciso falar, mais existem
tantos outros que o mais importante é aprender a calar; saber distingui-los é essencial.
Muitas
vezes fazemos o contrário: calamos quando deveríamos falar e falamos quando
deveríamos calar. Nós temos coragem para discutir sobre política, religião ou
outros assuntos diversos e polêmicos. Somos bravos quando falamos dos outros,
mas nos falta coragem para falar de nós, sobre nossas dores, frustrações e
medos.
O
mundo não precisa do barulho da nossa ira e indignação, o mundo não precisa
saber tudo o que pensamos, que nos empenhemos em desprender tanta energia em
explicar o óbvio. O mundo não precisa de nossos textões e lições de moral. O
que o mundo precisa é de falas mais presentes e assertivas, é de verdades
construtivas. O que o mundo precisa é de mais gente que sabe quando é hora de
calar, o que o mundo precisa é de silêncio.
Tatiana Nicz