As
luzes piscando mais rápido do que o seu pensamento; a pulseira azul grita no
meio dos desavisados que o seu “coração-partido-pagou-para-tomar-todas-sem-abrir-falência”.
Na pista – parecem milhares – milhares de homens e mulheres vestindo sua melhor
fantasia. Engolindo seu choro; comemorando; dançando. Uma moça bêbada sentada
no chão chora e um homem sozinho dança à procura de uma alegria que parece não
encontrar; e você se pergunta: o que diabos estamos fazendo com as nossas
vidas? Você olha seus amigos sorrindo e dançando e, de repente, você se lembra
de que estar sozinho no meio de uma multidão é das piores solidões da vida.
Vivemos
em um mundo que nos dá desculpas ideais para que sejamos cada vez mais
egoístas; temos listas e mais listas do que nós devemos procurar em um
parceiro, mas dificilmente lemos aquelas que falam sobre como sermos melhores
para eles. Exigimos dos outros muito do que não temos pra dar e somos incapazes
de alcançar a verdade que o outro nos mostra por amor.
Estamos
nos isolando em ilhas (cercadas por oceanos que de pacíficos não tem nada),
enquanto culpamos nossas relações passadas, nossas agendas, nossa personalidade
e as coisas que não são perfeitas na nossa vida; como se fosse haver o tempo
perfeito; como se fossemos estar preparados em algum momento; como se em algum
momento não fossemos ter que conciliar trabalho, estudo, vida social e amorosa
e parar de reclamar por isso. Estamos afastando pessoas incríveis, quebrando
expectativas e corações enquanto nosso orgulho e nosso medo permanecem
intactos. Pra quê?
“Eu sou assim, vou continuar
sendo assim”; “Quem ficar comigo vai ter que se adaptar a
isso”; “Você é que não me entende”.
Será? Será que não existe um meio do caminho onde possamos abrir mão do que faz
mal ao outro e que não é nossa essência? Será que não dá para realmente
ouvirmos e entendermos o que é importante para o outro? Será que em um
relacionamento (de dois) é só um que está errado e que não entende; que tomou
todas as decisões, sozinho? São as pequenas ações, são os detalhes, que
determinam a felicidade de um relacionamento. Será que só porque pra nós esse
ou aquele detalhe não importa, a gente não pode se atentar a ele mesmo assim já
que pro outro faz tanta diferença? Será que continuar sendo assim não nos
prejudica e não prejudica todo mundo que gosta de nós?
Queremos
amar, mas somos infantis, egoístas e egocêntricos. Vemos as pontes, mas não
queremos ter de atravessá-las e temos medo da tristeza e da decepção de
descobrir que o outro não se deu ao trabalho de tentar atravessá-las também.
Isso porque independentemente do quanto queiramos a pessoa do outro lado, nessa
ponte chamada amor só se pode andar até o meio do caminho. Não adianta. Podemos
chorar, gritar, cobrar do outro que ele nos encontre lá, mas não vai resolver
se o outro não estiver disposto a caminhar na nossa direção enquanto a ponte se
estreita e obriga que ele abandone toda a carga do passado, dos traumas, do
orgulho, do medo e do egoísmo na mesma proporção que nos obriga a abandonar
tudo isso também.
E
é desta forma que, mesmo a vida sendo a arte do encontro, é dos desencontros
que a gente vai vivendo, porque ninguém anda com coragem pra abandonar o mundo
que gira no seu próprio umbigo pra provar o gosto de dar as mãos para alguém
com a leveza de quem abraça uma alma.
E
é por isso que existem tantas pontes vazias por aí e o amor é coisa rara.
Podemos
assistir comédia romântica, ouvir todas as músicas de todos os compositores que
falam dele. Quem sabe até sair pichando seu nome pelas ruas da cidade ou
sussurrando sobre ele no ouvido de algum desavisado. Mas não dá pra enganar
não: a verdade é que o amor é raro e exige sim coragem, disposição e
persistência.
A
verdade é que o desencontro dói. Uma dor na alma, dessas que nos destroça mais
do que pensamos que podia. E que, em algum momento, a gente encontra alguém que
nos faz sentir verdadeiramente tristes por termos ficado sozinhos no meio das
nossas pontes.
E
nesse mundo em que as pessoas vão sabotando o amor, preferindo morar sozinhas
nas suas ilhas e dizer que não têm tempo e não encontram ninguém, é impossível
não sentir muito por não termos sido olhados com olhos de quem vê e não termos
sido escutados com a atenção de quem escuta. Em algum momento a gente acaba
tendo que dizer: eu sinto muito por você ter se fechado pro que a gente podia
ter sido (se fosse, se sesse, se era).
Se
fôssemos ‘Nós’ ao invés de ‘Eus’.
Via: Sábias Palavras