Cada
escolha é uma renúncia, cada dia a mais é um a menos. Mas a gente se dá conta
mesmo disso? Estamos realmente prestando atenção nas nossas escolhas
cotidianas?
“O que estão fazendo? O que estão
pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que
amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas
trivialidades, somos devorados por nada”. Esse trecho faz parte do livro ‘O capitão saiu
para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio’, do velho e desbocado
Bukowski, com fragmentos de seu diário escritos entre 1991 e 1994. Mais de
vinte anos se passaram e essas palavras continuam servindo para os dias atuais.
Assim como muitas das músicas do Renato Russo. E do Cazuza. E do Raul. E de muitos
outros nomes também.
A
época é outra, mas as indagações permanecem: as dúvidas quanto ao amor, as
dores da solidão, a banalização dos sentimentos, a supremacia da aparência, a
perda de tempo com as trivialidades. Não, não é culpa da internet, do
smartphone ou do Tinder – embora eu acredite que essas ferramentas acabaram por
amplificar e facilitar esse cenário – a culpa é nossa. O problema dessa agonia
generalizada, dessa banalização dos sentimentos, desse circo todo é pura e
exclusivamente nosso. As pessoas perderam o trato com as próximas, e não sei
bem quando isso aconteceu, se foi na época de trocas de cartas ou quando eu
mandava meu último WhatsApp.
Já
dizia Clarice: a vida não é de se brincar porque um belo dia se morre. E
concordo com o velho Buk, se parássemos para pensar nisso, quem sabe podíamos
amenizar um pouco dessa agonia toda? Todo momento de nosso dia é uma escolha, e
como disse o Jô Soares em uma entrevista: escolher é perder sempre. Mas cabe a
nós decidirmos o que vale a pena perder, já que não temos todo o tempo do
mundo. Que diabos, nem ao menos sabemos quanto tempo nos resta!
Se
cada escolha significa uma renúncia, não está em tempo de pensarmos melhor
sobre nossas perdas? Em pensar menos no volume, na quantidade, e mais na
qualidade daquilo que estamos escolhendo? Vários colegas ou um bom amigo?
Várias risadas forçadas em uma festa ou uma noite com risadas sinceras de doer
a barriga? Muitas transas vazias ou poucas transas com possibilidades do
aconchego do depois? Que tal menos ‘doer’ e mais ‘doar’?
Não
estou dizendo que devemos deixar de fazer outras coisas triviais. Não devemos
ser sérios sempre, nem filosóficos sempre, nem ser altruísta sempre – mas
aprendi que a vida nos dá dois caminhos de aprendizagem: o da dor e o do amor.
E enquanto eu puder escolher, fico com o segundo, ainda que pareça que ele dói
às vezes, o caminho do amor é sempre a melhor opção. E já que não temos escolha
sobre a morte, que ao menos a gente possa escolher as possibilidades que deixam
a vida mais leve. Daqui a gente não leva muita coisa mesmo.
Via: Obvious