O
passado é como uma bússola: lembrar não é se aprisionar, é ter um parâmetro,
uma noção de quais caminhos trilhar (ou não).
Quando
nos lembramos de algo que nos passou, temos então um parâmetro. Uma noção do
que já foi. Daquilo que fez parte da nossa história, nos compôs. Entretanto,
muitas vezes lembrar é doloroso e evitamos o fazer.
Em
casos de desespero se nos fosse dado o poder, o apagaríamos num piscar de
olhos. Contudo, apagar o passado vai muito além de esquecer o que foi
conturbado, doloroso e nos afetou, apagar o passado é perder o referencial de
quem fomos e do que somos, é perder uma das bases da vida.
Olhar
para trás é necessário quando se precisa entender algo atual, compreender
momento, analisar e constatar fatos, entender melhor nossas próprias verdades,
aquilo que faz parte da essência de quem se é. Como quando olhamos para trás e
percebemos que aquela realidade de outrora atualmente seria totalmente
incabível e até mesmo inimaginável. Ver que nos sujeitamos quando poderíamos
ter dito não, perceber que nos contentamos com pouco, com migalhas de um todo.
Se
o presente hoje soa diferente é por algo no passado que se ressignificou, não
se encaixou mais. O amanhã também se faz com base não somente no que queremos,
mas no que não queremos mais. Saber para aonde não mais voltar.
Para
viver o hoje de forma plena é preciso usar o passado como bússola, apontando os
erros cometidos, as falhas, as verdades omitidas, o receio que falou mais alto
que a razão, os sonhos engavetados, os sentimentos trancafiados. Usar com
bússola direcionando aonde não mais voltar, as falhas a não executar novamente.
Por
que é tão mais fácil o tornar uma âncora que nos sobrecarrega e nos arrasta até
o abismo oceânico nos culpabilizando outra vez pelos erros cometidos; quando na
verdade ele pode ser um grande agente auxiliador no processo de mudança e
evolução, de ressignificação?
Olhar
para meu ontem para saber o que não me cabe mais, para integrar entre mente e
coração aquilo que não faz mais parte da minha mais genuína verdade. Ver o que
não tem mais lugar no hoje. Lembrar é necessário, mais que isso, é fundamental.
Sem nossas lembranças seríamos partitura incompleta, livro inacabado, incoeso.
Lembrar não é se aprisionar, é ter um parâmetro, uma noção de quais caminhos
não mais trilhar, é saber o que é de fato bom.
Usar
o passado como uma bússola em alto mar, a saber em quais cais não mais nos
firmar, em quais ventos errôneos, quais direções não tomar. Lembrar não é
viver, é instrução. Que o passado não nos aprisione, e sim nos oriente.
Via: Obvious