(...).
Agora você olha no fundo dos meus olhos castanhos e pergunta se eu acho que uma
mulher precisa de um homem para ser feliz. Te respondo que uma mulher precisa
de amor para ser inteira.
Amor
pelo que faz. Amor pelo espelho. Amor pela família. Amor pelos amigos. Amor
pelo bichinho de estimação. Amor pelo outro. Amor de volta. Porque dar amor é
bom. Mas receber amor também é melhor ainda. Quem não gosta? Desculpa, mas meu
coração não entende muito bem a solidão. Gosto de abraço de urso, beijo
estalado, carinho no cabelo e sorriso bem largo, espaçoso, verdadeiro.
Uma
mulher não precisa necessariamente de um homem para ser feliz. Mas ela precisa
de amor para ser completa. Tem gente que vive bem cercado de bichos. Tem gente
que vive bem cercado de livros. Tem gente que vive bem cercado de sapatos. Eu
vivo bem cercada de amor. Antes, bem antes, eu vivia bem com minha família,
meus amigos, minhas palavras, minha labrador preta, minha parede rosa. E
faltava alguma coisa. Faltava alguém para dormir abraçadinho. Faltava um colo
para sossegar a alma. Faltava alguém pra rir um riso intenso. Faltava alguém
que completasse o que eu vou falar. Faltava alguém que soubesse que detesto
pimentão. Faltava alguém que deixasse sempre um restinho de café na xícara.
Faltava alguém pra reclamar que o ar-condicionado tá muito frio. Faltava alguém
pra me dizer boa-noite-meu-amor. Sou romântica. E vou morrer assim. Hoje sou
muito mais eu. Hoje descobri que sou muito mais feliz agora. Não que não fosse
antes. Mas antes eu nem sabia o que era um sentimento de verdade.
Não
aguento mulher que só fala em dieta, celebridade, roupa, dinheiro e mal de
homem. O mundo é maior que um closet cheio de sapatos. Maior que a Dieta dos
Pontos. Maior que o milhão de reais que a Joana Machado ganhou. Maior. Gosto
das coisas de dentro. O que está por fora muda a cada estação. A essência, não.
Muita gente não tem paciência de tentar. Fogem no primeiro problema. Desistem
no primeiro empecilho. Esquecem da essência.
Se
alguma coisa não deu certo pra você, não jogue a culpa no amor. Ele não tem
nada a ver com isso. As coisas dão certo até onde têm que dar. Se parou de
funcionar, se o amor morreu sufocado ou afogado, se não tem mais jeito, o
negócio é viver o luto, curtir a fossa e cuidar da vida. Fazer aula de
italiano, ler vários livros, assistir filmes, jogar charme para o vizinho do
andar de cima. Sem ofender o amor e os apaixonados. Porque um dia você vai amar
de novo. E, desculpa o meu lado bobo, mas um dia você vai amar de novo o amor
da sua vida. Envelhecer junto. Andar de bengala na praça em um domingo
ensolarado e dizer um-dia-eu-ri-da-cara-do-amor.
Clarissa Corrêa