Eu amei por nós dois.



“Quando somente um dos parceiros oferece os lábios, estende as mãos, mantém os passos juntos, prepara a cama, o banho, a lista de compras, presenteia, conta sobre si e pergunta sobre o outro, então há desequilíbrio, desencontro e sobrecarga. Então não existe verdade inteira e completa.”
Em todos os tipos de relacionamentos, sejam amorosos, profissionais, de amizade, sempre parece haver alguém se importando mais do que o outro, como se para uma das partes aquilo tudo fosse mais necessário, mais precioso, algo por que valha a pena lutar. Verdade ou não, mesmo que um ame mais ou menos - o que, de fato, parece imensurável -, é imprescindível que pelo menos haja entrega de ambas as partes. Um e outro devem se sentir, no mínimo, amados.

Os relacionamentos requerem acolhimento, entendimento mútuo e parceria, pois necessitam de trocas e entregas constantes. Quando nos relacionamos com alguém, passamos a dividir sonhos, expectativas e a construir um caminho de união e cumplicidade. Sem que haja disposição de ambas as partes envolvidas, um lado acabará fatalmente ruindo com o peso que acumulou somente para si, pois nenhuma relação unilateral fugirá a isso.
Muitos casais possuem esse descompasso emocional enquanto caminham e tentam se manter juntos, como se somente um deles estivesse disposto a renúncias, ao perdão, ao entendimento e ao entregar-se sem rodeios. Embora esse esforço de mão única seja capaz de prolongar a relação, inevitavelmente se chegará ao ponto de ebulição, quando o amor sucumbirá sob a carga de mágoas e de decepções que sempre encontram uma maneira de virem à tona.
Quando somente um dos parceiros oferece os lábios, estende as mãos, mantém os passos juntos, prepara a cama, o banho, a lista de compras, presenteia, conta sobre si e pergunta sobre o outro, então há desequilíbrio, desencontro e sobrecarga. Então não existe verdade inteira e completa, nem o vai e vem de energia e de carga afetiva que alimentam o amor a dois. Entregar-se sem receber nada em troca não condiz com o estabelecimento da serenidade reconfortante e renovadora que deveríamos encontrar junto de quem amamos, nem condiz com o amor em si.
É fato que as tarefas diárias e as atribulações intermináveis do cotidiano a que nos sujeitamos muitas vezes nos impedem de prestarmos atenção no que ocorre além do escritório e dos extratos bancários das contas que se acumulam. No entanto, nada justifica relegar diariamente quem está ao nosso lado à espera angustiosa do que nos dispuséramos a oferecer. Se conquistamos o amor de outra pessoa, é porque pudemos nos mostrar como alguém por quem valeria a pena se apaixonar e se entregar. Permitir que a rotina nos distancie daquele nosso eu que cativou o amor de alguém, mantendo o parceiro afogado em frustrações, ao enfrentamento de silêncios e de vazios emocionais, é injusto, chega a ser desumano, é egoísmo.
Precisamos assumir o compromisso que é estar com alguém, não apenas retornando para casa após o trabalho e praticando mecanicamente sexo e demais cordialidades, superficialmente, sem que ao menos percebamos que existe alguém com desejos e sonhos ali do lado, ansiando por um olhar nosso que seja, mas fazendo com que o outro tenha a certeza de que estamos juntos e interessados nele - as pessoas necessitam saber que são importantes em nossas vidas. Não há possibilidade alguma de um relacionamento sobreviver com a entrega sincera e verdadeira somente de um, quando existem dois em jogo. Porque não existe amor pela metade, amor pendente, amor em haver, mas sim amor em comunhão e entrega de corpo e alma, sem hesitação, sem demora, sem solidão.

Via: Obvious