Volta...
Fica... Por favor... Desculpe... Não... Sim... É, pois é, esqueceu de dizer? E
agora como fica?
Ela
saiu de casa brigada com o irmão... Ele bateu o telefone na cara dela... Ele
estava muito ocupado para atender a ligação do filho... Ela disse adeus
querendo que ele pedisse que ela ficasse, mas ele abriu a porta e a mandou
embora... Ele bateu a porta do carro e a mandou para o inferno, sem lhe dar a
chance de uma única explicação... Ele não deu atenção a ligação da mãe já
idosa... Ela não pode atender a irmã, pois estava em reunião importante...
Cansados?
Algumas dessas situações podem lhes parecer “fictícias”
demais, “oníricas”, poéticas demais,
mas elas acontecem, diariamente; enquanto estamos aqui, eu e vocês, muitos
seres estão vivendo cenas tais quais as descritas, e/ou outras tantas muito parecidas,
quiçá, mais intensas do que as aqui relatadas. O curioso destas situações é que
um dos sujeitos sempre fica à “deriva”,
como que ‘perdido’ diante da reação do outro; “eu só queria dizer uma coisinha...”. O trágico destas situações é
que em alguns casos, essa “coisinha”
nunca mais será dita... Por quê?
A
mãe idosa, estava “instintivamente”
ligando para se “despedir”... O filho
ansioso queria “apenas” contar que
acabara de ganhar seu 1º prêmio de Matemática... A irmã só precisava de uma
palavra da sua “grande” parceira,
pois acabara de perder o bebê... O irmão com quem ela havia brigado, ela nunca
mais veria, pois, sofreu um acidente a caminho do trabalho... A ligação dela
era para dizer que iria se casar, mas que se ele pedisse ela jogaria tudo para o
alto... Ela realmente foi para o inferno, poucas quadras depois de sair do
carro dele...
Que
tipo de sensação nos invade quando pensamos que isso poderia ocorrer conosco?
Seria isto apenas uma historinha triste, um belo prefácio para livro, um script
para um longa dramático?
Quantos
amores desperdiçados... Quantos laços perdidos... Quantas amizades desfeitas...
Quantas vidas marcadas... Como fico com tantas, ou mesmo poucas, mas
necessárias “coisas” que deveria ter
dito e simplesmente não disse? E a desculpa que eu “precisava” ter pedido, não por causa do outro, mas “por mim”, para minha “libertação”, e que agora não mais
poderei?
E
o “eu te amo” não dito por “orgulho” ou por “medo”, que não direi, porque um outro alguém o fez... O mais
doloroso é que minhas palavras não ditas, me atormentam, me consomem, me
angustiam...
Eu
as transformei em “raiva”, em “amargura”, em “rancor”, e com elas conviverei, sei lá por quanto tempo. E o que é
ainda pior, tudo que não foi dito, tudo que não foi “esclarecido”, um dia volta, um dia “retorna”, por mais que eu queira “esconder” e fingir sua “inexistência”;
todas aquelas palavras “engolidas” sem
digerir, “um dia voltam”...
Que
não me falte a coragem do encontro com minhas palavras, e que elas jamais me
engasguem, no momento de “libertá-las”,
por mais dolorosas que possam parecer; pois, prefiro a dor momentânea da “soltura”, ao sofrimento de um eterno e
escravo silêncio mórbido...
Via: Obvious