Eu
quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto
dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar
o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você
tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas
o que tinha, era seu.
Mas
se você tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em
meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir
em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer,
lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia —
qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo
sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero
como um tempo perdido.
Tinha
terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe
exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma
lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para
mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo
encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e
então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo
que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes
de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Caio
Fernando Abreu