Às
vezes não há aviso algum. Nenhuma pista, nenhum sonho premonitório, nenhuma
intuição. Aquilo que parece só mais um dia, um dia comum, é o dia em que o amor
o alcança. Você ainda não enxerga sincronicidade, encontro de dois caminhos,
início de uma história que será contada pela eternidade. Mas acontece. Do nada.
Sem aviso algum. Apenas como um ‘teste’ da vida para saber se você sabe
reconhecer delicadezas. Sem perceber que foi eleito, você pode recusar a sorte
que lhe sorri e continuar acreditando que o mundo está cheio de almas vazias
para o seu querer. Ou, atento à clandestinidade da felicidade, pode reconhecer
os sinais e por um instante de descuido, permitir que o amor o alcance.
Por
mais decepcionadas e blindadas que as pessoas estejam, não se pode generalizar
as derrotas do amor. Nem todo mundo está fazendo hora com você, nem todo mundo
quer te usar para depois descartar, nem todo mundo está tão machucado que não
quer se envolver. Ainda acredito que há pessoas dispostas a andar de mãos
dadas, a assumir compromissos, a investir num encontro até que o tempo mostre
que ali há uma vocação para o amor. Ainda acredito em investimento emocional,
parceria, cumplicidade, envolvimento. Insisto em não desistir de acreditar em
afinidades, que vão desde uma cerveja compartilhada numa tarde quente até a
disposição para conhecer e começar a gostar de séries policiais no Netflix.
Posso parecer ingênua e excessivamente otimista, mas ainda tenho fé num tipo de
sentimento que começa num encontro tímido e, com muita vontade e coragem, vai
se tornando, pouco a pouco, dia a dia, em amor construído, batalhado,
valorizado.
Eu
tinha deixado de acreditar no amor, até que conheci você. Mais do que dizer que
eu era a mulher da sua vida, você me fez entender que eu poderia ter um tipo de
amor que eu não sabia que existia. Um tipo de amor que me assegurava possibilidades
novas, até então desconhecidas para mim. Sabe, eu tinha me acostumado a aceitar
pouco. Eu tinha me habituado a ter em minhas mãos migalhas. Eu tinha aprendido
que deveria me sentir grata por qualquer pontinho de afeição direcionado a mim.
Eu não sabia que poderia ter mais. Não sabia que havia alguém disposto a me
acompanhar sem reclamar, sem impor condições, sem pedir algo em troca. Não
sabia que era possível ser amada dessa maneira. Não imaginava que poderia
encontrar alguém que segurasse minha mão com tanta força e ternura que eu nunca
mais teria medo de não ser amada.
Eu
entendia o amor errado. Imaginava que amar era um jogo que oscilava entre
perdas e ganhos. Imaginava que a sensação de estar numa montanha russa
emocional me tornava mais ‘viva’, mesmo que isso custasse noites com o
travesseiro molhado de lágrimas. Eu precisei me despir de meus medos e aceitar
que poderia ter alguém diferente de tudo o que eu já havia conhecido antes.
Alguém que estava disposto a atravessar as tempestades junto comigo e tornar
meu caminho menos sinuoso.
Era
preciso que eu voltasse a acreditar no amor. Era preciso que eu descobrisse que
era possível encontrar alguém com quem poderia compartilhar pequenas ou grandes
histórias, momentos delicados ou grandiosos, alegrias serenas ou arrebatadoras,
tristezas miúdas ou generosas. Era preciso que eu entendesse que reciprocidade
não se trata apenas de ligar no dia seguinte ou responder a uma mensagem
carinhosa. Tudo isso faz parte, é claro, mas também se trata de ter real
interesse na sua vida, orgulho de suas conquistas, parceria, respeito,
investimento de tempo e sentimento. Era preciso que eu encontrasse você. Era
preciso que eu te amasse como eu te amo e aprendesse, de uma vez por todas, que
o amor se constrói no dia a dia, somando pequenas delicadezas, diminutas
concessões, miúdas gentilezas e abundante dedicação.
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