Você
tem que aprender a levantar-se da mesa quando ao invés de riso brotam lágrimas
em seu rosto, quando ao invés de flores nascem espinhos em sua alma, quando o
outro desconhece a palavra respeito e insiste em nos machucar.
Devemos
nos retirar da mesa quando a amizade deixa de ser leve, o amor um fardo e a
convivência conflitante.
Quando
dispomos do nosso tempo, amamos e juramos ter feito “de tudo” e mesmo assim o outro insiste em se levantar da mesa e
nos deixar ali sozinho.
Quando
o outro dá as costas para as nossas dores sem ao menos querer saber dos nossos
porquês. Quando você insiste em fazer dar certo enquanto o outro deseja pôr um
fim. Quando você se pega questionando o que fez de tão errado e não encontra
respostas para os teus porquês. Devemos nos levantar da mesa quando o amor não
está sendo servido, quando a amizade nos sufoca e o “amor” nos prende. Quando a gente sente culpa mesmo não tendo, quando
a gente se vê como erro mesmo sendo acerto. Devemos nos retirar quando o outro
persiste em usar da sua indiferença para nos atingir, e então, aquilo nos
atinge de forma certeira como alguém que tem uma boa mira.
Devemos
aprender a levantar da mesa e nos retirar não como quem vai até a cozinha e
troca o cardápio, mas como quem não quer mais pisar nesse território, porque
sabe que ali o café esfria rápido, o pão de queijo não é quentinho e o bolo de
cenoura não esbanja aquela calda de chocolate que você tanto gosta.
Devemos
aprender a não aceitar pouco e isso não é egoísmo ou exigência, isso é o mínimo
que merecemos. Nós merecemos sim, muito. Ninguém quer um amor pela metade,
ninguém quer insistir em uma amizade que insiste em não ser. É difícil ter que
puxar assunto o tempo todo, arrumar conversa para manter contato, levar
incontáveis nãos por motivos quaisquer. É difícil ser amparo para quem não quer
o nosso achego, em ser atenção para quem a despreza o tempo todo. Devemos nos
retirar depois de tantas insistências, depois de tanto querer acertar, depois
de tanto tentar entender os porquês, em quebrar a cabeça tentando encontrar uma
resposta que alivie aquela angústia que chega a apertar o peito.
E
então, depois de engolir tantos sapos, depois de tentar ajeitar o cardápio,
mudar os ingredientes e requentar o café a gente deseja pão de queijo
quentinho, bolo de chocolate com muita calda e um chá que aqueça a nossa alma.
A gente cansa de abraços frios, “ois”
esporádicos, sorrisos disfarçados e gente que insiste em nos afastar o tempo
todo com a sua indiferença constante. A gente cansa de sofrer, chorar e mostrar
para o outro o quanto somos bons. Um amor sobrevive às tempestades, mas não
sobrevive às friezas insistentes que congelam os nossos afetos e nos deixam
impotentes. Uma amizade sobrevive aos
tempos nublados, mas não sobrevive se um quer vendaval enquanto o outro,
calmaria.
E
então, a gente precisa aprender a se retirar da mesa quando o amor já não está
sendo mais servido, não por egoísmo ou falta de tentativas, não como quem
desiste do amor, mas como quem o deseja e que de alguma forma não o encontra
ali, afinal, reciprocidade é tudo em uma relação.
Thamilly Rozendo